Sydney - Se os primeiros dias do programa de prova da natação estavam preparados para o jovem australiano Ian Thorpe brilhar, nos 200 e 400 m, livre, o restante da programação ainda reserva a participação de outra grande estrela: o russo Aleksandr Popov, de 29 anos, que tem tudo para deixar o Centro Aquático de Sydney consagrado. Veloz e consistente, Popov pode tornar-se o primeiro nadador da história a ganhar medalhas de ouro individuais nos 50 e 100 m, livre, em três Jogos Olímpicos consecutivos. É um nadador que evita comentar sobre a vida pessoal ou até mesmo sobre a natação, embora tenha o domínio do inglês - treina e mora em Canberra, na Austrália, com a esposa Darya e o filho Vladimir - além de falar russo, o seu idioma.
Aleksandr Popov seguiu toda a sua rotina de preparação, enquanto fazia o "polimento", no Instituto Australiano de Esportes (IAE), em Camberra, e agora, em Sydney, já competindo nos Jogos Olímpicos, evitando contatos com a imprensa. Indiferente à rivalidade entre os nadadores da Austrália e Estados Unidos, Popov segue quieto às vésperas do que podem ser as provas de sua consagração. Pouco antes do início dos Jogos, em uma rara entrevista, deixou calara a sua determinação e preparação adequada para vencer as duas distâncias. "Em um bom dia ninguém vai me derrotar", afirmou. "Em um mal dia, ninguém vai me derrotar também." Popov começou a carreira como um nadador do estilo costas, mas foi direcionado pelo treinador Gennadi Tourestski, seu amigo, para o nado livre que aprendeu utilizado fitas de Matt Biondi (campeão dos 50 e 100 m, em Seul/1988).
O sucesso da adaptação ao estilo ficou evidenciado pelos resultados. Foi o primeiro homem, desde Jonny Weissmuller (que depois virou ator - o Tarzã, no cinema), em 1920, a ganhar duas medalhas de ouro em Jogos Olímpicos consecutivos, nos 100m. Foi o vencedor em Barcelona (1992), com 49s02, e em Atlanta (1996), com 48s74. É também o recordista mundial dos 100 m, livre (com 48s27), desde 1994. Sua incrível velocidade na água é acentuada pelas vitórias obtidas nos 50 m, em Barcelona, com 21s91, e em Atlanta, com 22s13.
Depois de sobreviver a uma cirurgia no pulmão e rins por causa de um acidente - uma facada de um vendedor de melancia, em agosto de 1996 - Popov voltou a nadar bem - ainda se vê a cicatriz até porque Popov prefere não usar o maiô que imita a pele de tubarão, a moda dessa Olimpíada. "Tenho minha própria pele", comentou. Esse ano, nas seletivas da Rússia, mostrou que ainda é rápido ao quebrar o recorde mundial dos 50 m, livre, que já durava há dez anos. A marca era de Tom Jagger, de 21s91. Popov nadou a distância em 21s64. Popov tem 1,98 m, mas uma envergadura de 2,10 m (de uma mão a outra) e um estilo técnico considerado perfeito.
Quando esteve no Brasil, Popov, que é rival declarado de Fernando Scherer, o Xuxa - por causa de insinuações que fez que o brasileiro usaria doping - elogiou Gustavo Borges. Sem perder a enorme confiança em seu trabalho. "Se Gustavo não tivesse nascido na minha geração poderia ser campeão olímpico."
Gustavo, Xuxa, mais o holandês Pieter van den Hoogenband os norte-americanos Neil Walker e Gary Hall e o australiano Michael Klin - que treina no mesmo local de Popov e é seu amigo - serão os principais rivais do russo nos 100 m, livre, que terá eliminatórias e semifinal, na terça-feira, e final na quarta-feira. Popov ainda nadará os 50 m, com eliminatórias e semifinais na quinta-feira e final na sexta-feira.