Sydney - O futebol feminino do Brasil terá a segunda chance de ganhar sua primeira medalha olímpica, mas nada indica que a luta será mais fácil do que em Atlanta, em 1996, quando a equipe ficou em 4.º lugar.
Ao vencer a Austrália por 2 a 1, na terça-feira, a seleção brasileira ficou com a segunda vaga e vai pegar a primeira colocada do grupo dos Estados Unidos, China e Noruega, respectivamente ouro, prata e bronze na Olimpíada passada. O segundo dessa chave enfrentará a Alemanha, que liderou o grupo do Brasil. Os vencedores disputam o ouro e os perdedores brigam pelo bronze. Pelo desempenho do time de Zé Duarte no Sydney Footbal Stadium, o caminho será penoso.
O próprio técnico já admite que as brasileiras entram como zebra nas semifinais. "Temos muitas dificuldades para jogar contra americanas e chinesas, que marcam bastante por pressão", explicou o treinador. Por isso, ele já adiantou que jogará na velha e boa retranca. "Temos que ter muita cautela e sair com bastante velocidade no contra-ataque, porque a defesa delas joga em linha." Foi por excesso de cautela, aliás, que o Brasil afundou no primeiro tempo contra um adversário limitado.
Como o empate bastava (só uma improvável goleada da Suécia sobre a Alemanha mudaria o quadro), as brasileiras acabaram jogando no seu campo e permitindo a pressão das toscas australianas. Com Sissi pouco inspirada e sem conseguir jogar pelas laterais, o time não conseguia organizar contra-ataques e só chegava com perigo com lances de bola parada.
Como as australianas apanhavam da bola, o jogo ficou pavoroso, com passes errados e chutões. O público, porém, não parecia se importar e aplaudia até chutão para a lateral. Mas o futebol tem seus caprichos e a inocente platéia foi recompensada com dois gols antológicos, talvez inéditos na curta história desse esporte. Aos 33 do primeiro tempo, a grandalhona Sunni Hughes honrou o número dez em suas costas. Na entrada da área, matou a bola no peito, deu um chapéu na marcadora, driblou uma segunda e chutou no canto direito da goleira Andréia. O troco brasileiro veio aos 11 do segundo tempo, quando Raquel apanhou uma sobra, de primeira, e encobriu a goleira, que estava fora da área.
Já nessa altura, o Brasil tinha conseguido se recuperar. Além do posicionamento mais ofensivo, e da melhor movimentação, o time ganhou com a entrada da atrevida Maicon na lateral esquerda, o que deu uma opção de ataque ao time. O destaque, entretanto, foi a atacante Kátia Cilene, que partiu para cima da defesa adversária e ainda voltou para combater no meio-de-campo.
Sempre ligada, ela forçou o erro da defesa australiana no primeiro gol e aproveitou outra falha das adversárias para fazer o segundo, arrancando da meia esquerda e chutando no canto oposto da goleira. A Austrália ainda teve um gol anulado, por impedimento, no último minuto, mas nada mudaria a classificação, já que a Alemanha venceu a Suécia.
Agora, Zé Duarte sabe que não haverá mais facilidades. Tanto que já tem as explicações para um eventual insucesso nas semifinais, que começam no dia 24.
"Vamos lutar muito por uma medalha, porque o futebol feminino não tem apoio no Brasil e precisa muito desse incentivo", declarou o técnico. "Mas não sei o que podemos fazer de diferente para chegar lá." Na falta de resposta para o próprio dilema, Duarte tenta injetar ânimo até na imprensa brasileira, antecipando o apelo que fará às jogadoras.
"É pitbul, gente, somos aquele cachorro pequeno que briga muito", exclamou o técnico, sugerindo que o Brasil vai precisar fazer coisas inacreditáveis para pegar uma medalha. "O pitbul é o único cachorro que sobe em árvore." De fato, não será nada fácil.