Sydney - Destino. É a isso que o judoca Carlos Eduardo Honorato atribui sua medalha de prata no peso médio (90kg), depois de toda a confusão que antecedeu sua ida para a Austrália. No dia seguinte a maior conquista de sua carreira, o judoca paulistano preferiu não polemizar com seu colega Edmar Zanol, o Branco, que era titular da vaga e reclamou muito após ter sua participação nos Jogos vetada pelos médicos. Para o vice-campeão olímpico, só a fatalidade pode explicar o desfecho do caso. "Acho que foi coisa do destino, porque Deus escreve certo por linhas tortas", afirmou Honorato.
De acordo com ele mesmo, sua derrota para Branco na seletiva havia tirado toda a sua motivação. E nem mesmo a notícia de que substituiria o titular chegou a alterar seu estado. "Não deu nem para ficar feliz, porque eu queria ganhar a vaga lutando e não por causa da contusão de um companheiro", contou o judoca. "Estava vindo para ganhar a medalha de ouro e aquilo tudo me atrapalhou."
Muitos acham que ele deveria ter vencido a luta contra Branco, decidida na bandeirinha, e ficado com a vaga. Honorato, contudo, não acha que tenha sido injustiçado. "Foi uma luta acirrada e não se pode falar do juiz, porque qualquer um poderia ter ganho", afirma. Depois do primeiro impacto com o corte do colega, Honorato diz que se concentrou só na Olimpíada. "Voltei a pensar no ouro, mas no fim a prata ficou de bom tamanho", avalia.
Apesar da alegria, Honorato não parece deslumbrado. "Essa medalha não é só minha, mas de todo o judô brasileiro", diz. "Não posso perder a humildade, porque se não você acaba assustando as pessoas." A partir de agora, o judoca quer retomar o curso de fisioterapia e a vida dedicada aos treinos de judô, bancados pela prefeitura de São Caetano.
Antes de abrir uma academia, projeto que ele tem para depois da faculdade, Honorato pretende disputar um Mundial e outra Olimpíada. E desta vez, trazer o ouro. Para quem se define como um "católico fugitivo - daqueles que só entra na igreja em casamento ou batizado", até que Honorato tem bastante fé. "O mais importante é ter Deus dentro de você", justifica. "Acredito nisso e vou me preparar para uma medalha de ouro na próxima Olimpíada." Se o destino ajudar, é claro.