São Paulo - O treinador Carlos Alberto Parreira, até por uma questão de ética, não fala abertamente, mas deixa transparecer em suas declarações que aceitaria voltar a dirigir a seleção brasileira de futebol. Procurando palavras para não magoar Luxemburgo, o treinador tetracampeão do mundo afirmou na manhã deste domingo, em entrevista à radio Jovem Pan, que deixou bom ambiente na CBF e que saiu da seleção após a conquista do Mundial, dos Estados Unidos, em 1994, "por vontade própria".
Ele comentou que no momento não foi procurado pelo presidente da CBF, Ricardo Teixeira e que não vive nenhuma ansiedade para voltar a ser técnico do Brasi. Mas, ao mesmo tempo, admitiu que "numa hora certa", aceitaria conversar. "Acho que tudo deve acontecer naturalmente e não por pressões. Ainda mais porque o Wanderley merece respeito porque é no momento o treinador da seleção brasileira. Eu não tenho estas pretensões e nem estou preocupado com isso. Se um dia a CBF me procurar vou analisar a possibilidade, mas repito que neste momento não estou vivendo expectativa alguma neste sentido", disse.
Parreira contou na entrevista que é muito desgastante ser técnico da seleção brasileira e que, num intervalo de programa de televisão, chegou a alertar Luxemburgo sobre este aspecto. "A seleção só estava fazendo amistoso, e o Wanderley praticamente vivia uma lua de mel no cargo. Comentei que ele ainda não havia visto nada e que devia se preparar para enfrentar as pressões que ia começar a receber no momento que iniciasse a disputa das Eliminatórias e de outros torneios oficiais."
Parreira lembrou ele próprio como exemplo disso, citando que quando deixou a seleção estava igual a "um barril de pólvora, preste a explodir. E olhe que eu ainda havia sido campeão do mundo. Diria que foram quatro anos de muito prazer, mas também de muitas pressões."
Sobre a desclassificação do Brasil na derrota por 1 a 0 para Camarões, Parreira preferiu dividir a culpa entre o treinador Wanderley Luxemburgo e jogadores. "Alguns jogadores desperdiçaram chances que normalmente seriam gols fáceis. Me lembro, por exemplo, de duas jogadas do Fabiano, outra do Geovani e mais uma do Roger. Quer dizer, pagamos pela incompetência de não saber finalizar bem, enquanto que Camarões, em uma única oportunidade, foi lá e marcou", disse evitando comentar a parte tática.
Mas foi bem crítico ao abordar que faltou competência para a seleção brasileira encontrar meios para furar a retranca e a marcação por linha de Camarões, que este inclusive estava com dois jogadores a menos: “Faltou tranquilidade para o time brasileiro. Camarões teve coragem ao empregar uma tática suicida. Com nove jogadores teve a ousadia de fazer a marcação por linha e de ir ao ataque mesmo com um número inferior de jogadores. Me lembro que o técnico Menotti empregou uma tática assim quando dirigia a seleção mexicana e só no primeiro tempo seu time levou cinco gols. Mas a seleção brasileira diante de Camarões não soube jogar com inteligência quando enfrentou esta retranca deles”.