Brisbane - Foi a noite mais longa de todos os jogadores da seleção olímpica brasileira. Nenhum deles conseguiu dormir direito de sábado para domingo, e o resultado da dor pela eliminação precoce no torneio olímpico de futebol era visível.
Com olheiras e cabisbaixos, pareciam não entender o que acontecera na véspera: a humilhante derrota do Brasil para Camarões, na prorrogação, com o adversário atuando com dois atletas a menos. "Não há palavras", comentou Ronaldinho, que trocou o sorriso habitual por uma expressão de absoluta tristeza e abatimento.
Álvaro foi um dos poucos a caminhar pelo hall do hotel. Também alegava cansaço. Nem ele nem seu companheiro de quarto, Fábio Bilica, haviam dormido. E o que é pior, durante toda a noite cada qual olhava para um lado, fixamente, como se estivesse hipnotizado. A descrição do próprio Álvaro desenhava o clima de perplexidade dos atletas pela perda da medalha olímpica. Ele conversou por telefone com suas duas irmãs, mas se recusou a falar com o pai, com receio de que ele o criticasse pela derrota.
O ex-zagueiro do São Paulo, agora no Las Palmas, disse que houve uma cobrança exagerada sobre o desempenho de Alex e Ronaldinho na competição e procurou dividir com eles a responsabilidade pelo fracasso do time na Austrália. A desclassificação imprevista o fez lembrar da Olimpíada de Atlanta, em 1996, a qual assistiu pela TV. Na oportunidade, Álvaro começou a repetir para si mesmo que um dia estaria representando o Brasil nos Jogos. "Vi meu sonho escapar de uma forma tão inacreditável, ainda não acredito em tudo isso."
Ronaldinho almoçou na área reservada à delegação brasileira e depois, com o andar arrastado, caminhou em direção a um dos elevadores do hotel.
Em tom pausado, disse que se virou de uma lado para outro na cama e passou a noite sem dormir. Justificou assim o cansaço. "Está todo mundo desse jeito." O goleiro Hélton, desolado, era outro com dificuldades de comentar algo sobre o jogo com Camarões. Nem sequer se lembrava de como se efetuara a jogada do gol marcado na prorrogação. "Vivo agora a maior tristeza de minha carreira", murmurou. O lateral Athirson era o único disposto a falar um pouco mais. Ele anunciou sua transferência do Flamengo para a Juventus, da Itália.