Sydney - O velocista Claudinei Quirino, vice-campeão mundial dos 200 metros rasos, inicia a partir das 20h05 de hoje (horário de Brasília) a caminhada rumo ao maior desafio de sua carreira: a conquista de uma medalha nos 200 metros da Olimpíada de Sydney. Maior destaque do atletismo brasileiro na temporada passada, Claudinei, campeão do circuito Grand Prix da Federação Internacional, terá a companhia de André Domingos na disputa da especialidade.
Com 88 atletas inscritos na prova, quatro "tiros" separam Claudinei Quirino da primeira etapa até a final. Por isso, o velocista paulista, de 29 anos, opta pela cautela em suas declarações.
Nem mesmo a ausência dos dois maiores favoritos ao ouro - os norte-americanos Michael Johnson e Maurice Greene - deixa o velocista entusiasmado. "Não adianta falar sobre adversários numa prova como esta", comenta Claudinei, que não esconde de ninguém que se sente pressionado pela cobrança de resultados. "Tenho de fazer a minha parte: entrar na pista e fazer o melhor que eu puder." Dono de quatro medalhas no Pan de
Winnipeg - ouro nos 200 m e nos revezamentos 4 x 100 e 4 x 400 m e bronze nos 100 metros -, o brasileiro quer enfrentar o desafio por partes, competindo cada uma das etapas como se fosse uma decisão. "Não posso pensar na semifinal ou na final antes de passar pelas eiminatórias", observa o corredor, nascido em Lençóis Paulista, criado num orfanato em Pirajuí e que mora em Presidente Prudente. "Estou treinado e pronto para competir."
Claudinei tem mostrado evolução desde que começou a treinar com Jayme Netto Júnior, em 1991, em Prudente. Das primeiras competições, nas quais conseguia tempos superiores aos 21 segundos, ao seu recorde sul-americano, de 19s89, o atleta teve de treinar muito e superar diversas lesões, comuns no esporte de alto nível. Este ano, mesmo sem contusões, ainda não obteve marcas excepcionais. A melhor foi de 20s23, obtido no Rio GP Brasil de Atletismo, em maio, no Rio.
Sem analista - A maior dificuldade enfrentada pelo velocista está longe das pistas. Criado sem a companhia de familiares, Claudinei tem dificuldades de relacionamento, tanto pessoal como profissional. Para tentar contornar a situação, contava com o auxílio da terapia psicológica. Antes de viajar, porém, rompeu com sua analista. "Ela queria saber muito de minha vida", limita-se a explicar. "Vou resolver meus problemas sozinho."
Na pista do Estádio Olímpico, os adversários do brasileiro têm nome e sobrenome. Os principais rivais são Ato Boldon, de Trinidad e Tobago, vice-campeão olímpico dos 100 metros rasos; Obadele Thompson, de Barbados, bronze nos 100; os norte-americanos John Capel, Floyd Heart e Coby Miller; e o nigeriano Francis Abikwelu.
André Domingos, de 27 anos, disputa a primeira temporada com a prova dos 200 metros rasos sendo a principal. Até o ano passado, ele dedicava-se mais aos 100 metros.
"Eu e o Jayme (o treinador) resolvemos investir nos 200 por acharmos que tenho maiores possibilidades de obter resultados a nível internacional", observa o velocista, integrante da equipe brasileira, bronze no revezamento 4 x 100 metros rasos em Atlanta, em 1996.
André tem a oitava marca entre os inscritos para a Olimpíada, com 20s17, tempo obtido no dia 1º de julho, com a ajuda da altitude da Cidade do México.