Sydney - Não é só com a seleção masculina que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) está tendo sérios problemas. Uma crise explodiu na seleção feminina após a derrota por 2 a 0 para a Alemanha, nesta quinta-feira, na disputa da medalha de bronze. O resultado deixou o Brasil com a quarta colocação nos Jogos de Sydney, mesma posição da Olimpíada de Atlanta.
Problemas de relacionamento entre jogadoras e comissão técnica vieram à tona e acusações foram feitas. Sissi chorou ao final da partida, numa mistura de tristeza e raiva. O técnico Zé Duarte não confirmou, mas pode deixar o comando do time na volta ao Brasil. O principal alvo das críticas é o auxiliar técnico Wilson Riça, o Wilsinho, ex-atacante de Corinthians e Portuguesa na década de 70.
Wilsinho foi acusado por algumas jogadoras de tumultuar o ambiente na seleção. Ele deixou o Sydney Football Stadium sem ser ouvido. A pedido dos jornalistas, o diretor de Categorias Especiais da CBF e chefe da equipe feminina, Luiz Miguel de Oliveira, foi procurá-lo no vestiário para que desse sua versão a respeito das acusações que estavam sendo feitas. Ao voltar, disse que Wilsinho não havia sido encontrado.
O técnico Zé Duarte tem divergências com seu auxiliar. Apesar de não confirmar de forma objetiva, Duarte disse indiretamente que havia um conflito entre ambos. Wilsinho foi técnico da seleção no Mundial dos Estados Unidos, no ano passado. O terceiro lugar classificou o time para a Olimpíada de Sydney. Pouco tempo depois, a CBF convidou Zé Duarte para reassumir o cargo, que deixara para ser treinador do Rio Branco de Andradas, no sul de Minas Gerais. Com isso, Wilsinho passou a ser seu auxiliar. "Uma comissão técnica tem de ser formada pelo técnico", disse Duarte. "Em qualquer time, auxiliar tem de ser auxiliar e técnico tem de ser técnico", afirmou, insinuando que Wilsinho ultrapassava os limites que seu cargo impunha.
Diante do racha na comissão técnica, parte das atletas ficou do lado de Zé Duarte e parte do lado de Wilsinho, técnico da Lusa Sant´Anna, que cedeu três jogadoras para a seleção. O auxiliar, também por conta disso, teria problema de relacionamento com algumas jogadoras. "A maior parte do pessoal está ao lado do ´seu´ Zé", disse a goleira reserva Maravilha, confirmando o racha. Ela não quis especificar quem está do lado de quem. "Prefiro não comentar esse tipo de assunto".
O chefe da delegação procurou amenizar o problema, mas acabou se irritando. "O Brasil tem de arrumar sempre um Cristo para explicar as derrotas e agora tem um Cristo novo", afirmou, referindo-se a Wilsinho.
O técnico Zé Duarte foi criticado por Oliveira. "Se o Zé não podia trabalhar com esse auxiliar, por que falou só agora e não no início?", perguntou. Desgastado com a situação, Zé Duarte disse que vai descansar em Campinas nos próximos dias. A seleção não tem programação definida para os próximos meses.
Outro mal estar na delegação diz respeito à CBF. Segundo a jogadora Sissi, a entidade só ofereceu um prêmio pela conquista de medalha depois que a seleção masculina, do técnico Wanderley Luxemburgo, foi eliminada do torneio. O prêmio seria de R$ 19 mil pela medalha de ouro, R$ 7,5 mil pela prata e R$ 5 mil pelo bronze. As jogadoras foram comunicadas da decisão no ônibus quando seguiam para o jogo contra os Estados Unidos, um dia após a eliminação brasileira do torneio masculino. Perderam por 1 a 0 e ficaram sem a chance de disputar o ouro.
Nesta quinta-feira, foi a vez da equipe feminina perder o bronze num jogo dominado pelas alemãs, que marcaram 1 a 0 aos 18 minutos, numa falta cobrada pela meio-campista Renate Lingor. As européias fizeram 2 a 0 aos 33 minutos do segundo tempo, com a centroavante Birgit Prinz. "Perdemos merecidamente da Alemanha", resumiu Zé Duarte.