Sydney (Reuters) - O hipismo brasileiro repetiu em Sydney a medalha de bronze na prova por equipes, conquistada pela primeira vez em Atlanta. Este ano, porém, a conquista produziu muito mais suspense e muito mais festa do que em 1996. Enquanto Alemanha (15 pontos perdidos) e Suíça (16 pontos perdidos) cumpriam tabela como favoritos, levando respectivamente o ouro e a prata, a equipe brasileira teve que buscar o bronze em um desempate - com um terceiro percurso cronometrado - contra os franceses. A medalha veio suada e por isso a festa explodiu tão intensamente, com torcedores invadindo a pista, champanhe correndo solta e uma produção em massa de frases de efeito.
“Quero agradecer a Deus por ser brasileiro, quero agradecer aos portugueses por terem descoberto o Brasil e quero agradecer a um português, Diogo Pereira Coutinho, porque ele é dono do Baloubet e do Ralph, dono de metade da equipe do Brasil”, disse Luís Felipe de Azevedo, referindo-se ao proprietário dos cavalos que ele e Rodrigo Pessoa estão montando.
“Eu não sou dono de metade das medalhas do Brasil, os donos são o Ralph e o Baloubet, dois cavalos maravilhosos”, respondeu o português com toda a simpatia do mundo.
Para Nelson Pessoa, pai de Rodrigo, técnico e guru da equipe brasileira, “foi uma medalha linda, especialmente em um dia em que os nossos cavalos não estavam no melhor nível. Se os cavalos tivessem tido um super dia, teríamos o ouro. Estamos com o bronze porque os rapazes montaram de maneira sensacional.”
O roteiro da segunda medalha da história do hipismo brasileiro reservou a explosão de alegria para a última cena, o desempate contra os franceses, mas não deixou de ter um gosto amargo. Com um pouco mais de concentração e inspiração dos dois cavaleiros do meio' -- André Johanpeter e Doda Álvaro Affonso de Miranda Neto -, o ouro teria sido possível. No início do segundo percurso da Copa da Nações, a fase decisiva da competição, o Brasil estava com quatro pontos, um obstáculo atrás de Alemanha, Suíça e França.
Luís Felipe de Azevedo, Felipinho, zerou e não derrubou nenhum obstáculo na segunda passagem. Com isso, o Brasil subiu para o segundo lugar. Era praticamente certo que o percurso de Baloubet e Rodrigo Pessoa seria limpo, e foi mesmo. Depois disso, bastava mais um zero para a equipe brasileira ficar com o ouro no peito. Foi nessa hora que a maré virou. Johanpeter e Calei fizeram um péssimo percurso, de 16 pontos perdidos - quatro obstáculos derrubados. O Brasil caiu para o quarto lugar. Na rodada seguinte, Doda também foi mal - 12 pontos, ou três obstáculos.
O ouro tinha escorregado pelos dedos. André e Doda passaram o resto da prova fazendo contas e secando os adversários. O mau agouro deu certo contra os franceses. Patrice Delaveau acabou eliminado com dois refugos e seu cavalo Caucali acabou machucado. Philippe Rozier também teve uma pista ruim, com o cavalo, Barbarian, machucado - 12 pontos. Ele foi o penúltimo cavaleiro a saltar numa prova onde 67 conjuntos passaram duas vezes cada um. No fim da tarde, o Brasil renasceu para o bronze.
“Cadê o meu cavalo? Estamos vivos, vamos lá gente!”, gritou Felipinho em meio às comemorações brasileiras pela desgraça francesa. Depois de muita confusão e correria, as duas equipes entraram na pista para um desempate. O Brasil tinha quatro conjuntos e a França, três. Felipinho, atleta que adora atuar sob pressão, fez um zero com um tempo baixíssimo, arriscando em todas as curvas e todos os saltos.
“Fui para cima, claro. Precisava botar pressão nos franceses”, comentou. A pressão funcionou. O primeiro conjunto francês fez oito pontos por faltas e dois obstáculos derrubados. André foi o segundo do Brasil a entrar no desempate para também produzir uma pista limpa. “A pressão era muito grande sobre as minhas costas, porque eu tinha feito um segundo percurso muito ruim. Sorte que meu cavalo saltou muito bem e eu pude colaborar com a medalha. Estava me sentindo mal pelo esforço do Rodrigo e do Felipe”, afirmou Johanpeter. “Depois do meu zero, o Rodrigo pôde fazer o percurso mais devagar e eu ganhei moral para entrar na prova individual”, completou.
Mesmo com Doda e seu cavalo Aspen, já cansado, tendo feito um percurso ruim, oito pontos, o Brasil só precisava de mais um zero de Rodrigo para liquidar a fatura sem a necessidade do último conjunto francês entrar na pista. Foi exatamente isso o que aconteceu. “Ganhei no desempate dos franceses, que são meus amigos e companheiros. É a lei do esporte. Cumprimos a primeira de nossas metas que foi a medalha em equipes. Agora temos um dia de repouso total e depois vou pensar na medalha individual”, disse Pessoa, hoje o melhor cavaleiro do mundo.