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Psiquiatra do COB diz que Brasil não amarelou
Quinta-feira, 28 Setembro de 2000, 12h45

Sydney - A eliminação prematura das equipes de futebol; do vôlei masculino, e as derrotas nas finais de vôlei de praia não foram resultado do medo, segundo a opinião do médico-psiquiatra Roberto Shinyashiki - o homem indicado pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) para dar apoio psicológico e emocional aos atletas brasileiros em Sydney.

"Acho uma injustiça dizerem que os brasileiros tremeram na hora da decisão. Ninguém amarelou", garante ele. "Porque é que ninguém fala que Ian Thorpe amarelou na final dos 200 metros. Ele era considerado o grande favorito e perdeu para o holandês (Pieter vand der Hoogenband)?", argumenta o psiquiatra. "Será que o Popov (Alexander) amarelou (foi derrotado na final dos 100 metros livre)?", pergunta ele. "Será que o japonês bicampeão do mundo (Hidehiko Yoshida) quase teve o braço quebrado na luta contra o Carlos Honorato (judoca do Brasil), porque tremeu na final?, insiste. "É óbvio que não", responde ele.

Shinyashiki diz que não se pode analisar os resultados de uma maneira linear. "Cada partida deve ser observada separadamente, porque são situações diferentes", explica ele. Sobre a eliminação do vôlei masculino a explicação é simples. "Hoje, todos os times têm estatísticas sobre os adversários. Por causa disso, é cada vez mais difícil jogar. Se você não tiver jogo sobrando, vai ter problemas", diz ele. "É triste constatar isso, mas do ponto de vista estratégico, a Argentina esteve perfeita. Eles mapearam todas as nossas possibilidades de ataque e se prepararam", explicou. "Foi uma tremenda injustiça o Giovanne dizer que o time tremeu", acrescentou.

Shinyashiki diz que conversou com Shelda e Adriana Behar pouco antes do jogo semifinal. "Elas estavam absolutamente tranqüilas. E foram para a final assim. A questão é que a torcida australiana deu muita força para a sua dupla (Cook/Pottharst). É mais ou menos o que acontece quando um time grande da capital vai jogar no interior. O time da casa cresce muito", disse ele.

No caso do futebol Shinyashiki diz o seguinte. "Algumas vezes, você aposta numa estratégia. Eles (Camarões) apostaram na linha burra e acabou dando certo. Isso pode parecer absurdo, mas deu certo", disse. Os resultados surpreendentes destes Jogos são conseqüência do que Shinyashiki chama de "pulverização das medalhas". Na avaliação do especialista, hoje há mais países brigando pelo pódio e um número maior de atletas em boas condições físicas, técnicas e mais bem preparados psicologicamente.

Shinyashiki cita como exemplo o desempenho dos Estados Unidos. "Eles (EUA) não têm mais nenhuma chance de repetir o desempenho de Atlanta. Não vão chegar nem a 100 medalhas este ano", disse ele. Em Atlanta, os americanos conquistaram 110 medalhas. Outro exemplo da "pulverização", segundo ele, seria o crescimento surpreendente da China, Japão e das repúblicas agora independentes do leste europeu.

A sensação de fracasso da campanha brasileira, segundo ele, foi reforçada pela euforia provocada pelos resultados do Pan-Americano de Winnipeg (CAN), onde o Brasil fez bom papel. "Mas uma coisa é Pan-Americano e outra é Olimpíada", argumenta. "Quem foi que disse que o Claudinei (Claudinei Quirino), era favorito absoluto ao ouro nos 200 metros?”, questiona.

"Entre os que estão disputando a prova em Sydney, ele tem apenas o sétimo tempo. Não podemos esperar ouro nessas condições", afirma. Quirino correu nesta quinta-feira a final dos 200 metros e chegou em sexto. "Pode até ser que a gente consiga igualar, mas as 15 medalhas de Atlanta foram um aborto", disse ele, prevendo que o desempenho brasileiro deverá ficar abaixo da expectativa do torcedor.

Na primeira semana de agosto, pouco antes de a delegação brasileira iniciar viagem para a Austrália, Roberto Shinyashiki, deu uma palestra para os atletas, por sugestão do COB. O tema foi "Transformando o sonho em medalhas". No final, ele pediu que os atletas andassem sobre brasas. "A idéia das brasas é fazer com que a pessoa passe a acreditar no improvável", explicou.

Agência Estado

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