[São Paulo] - Wanderley Luxemburgo não usará a força do dinheiro para se agarrar ao cargo de técnico da Seleção Brasileira. Basta o presidente Ricardo Teixeira dizer que não está satisfeito com seu trabalho que ele não criará dificuldades para abandonar o cargo que sempre sempre foi a razão da sua carreira.
“Não serão R$ 3 milhões ou R$ 5 milhões que irão me segurar na Seleção. Não fico por dinheiro. Só continuo o meu trabalho se o presidente Ricardo Teixeira quiser. Vou revelar uma coisa que ninguém sabe: não existe multa alguma com a CBF. Recebo os meus salários e ponto final! Não fiz cláusula prevendo multa. Não quero um tostão de multa. Mas eu garanto uma coisa: demissão eu não peço porque acredito no meu trabalho! Quero dirigir a Seleção até a Copa do Mundo de 2002.”
Por acaso O JT conversou com o técnico por acaso. O procurado foi Candinho, o seu auxiliar na Seleção. A contragosto, o técnico atendeu o celular e acabou dando sua primeira entrevista no Brasil depois do fracasso na Olimpíada. Mas o suficiente para mostrar que está se recuperando do seu pior resultado como treinador. Ao contrário dos boatos que diziam estar em depressão e enfrentava sucessivas crises de choro.
“Não estou morto como muita gente deseja! Continuo triste por causa da Olimpíada. Ninguém queria ganhar mais a medalha de ouro do que eu. Mas não vou me abater como sonham as pessoas que querem me prejudicar. Tinha a opção de voltar escondido ou ficar mais tempo nos Estados Unidos, até esfriar os ânimos depois da eliminação na Olimpíada. Mas fiz questão de encarar as pessoas de frente. Sou um técnico de futebol que tentou ganhar a medalha de ouro e não conseguiu. Não sou nenhum bandido para me esconder”, diz, irritado.
O treinador continua fiel ao presidente Ricardo Teixeira. Em momento algum ele confirma o que já é público: não foi Luxemburgo quem vetou Romário ou qualquer outro atleta com mais de 23 anos para levar à Olimpíada da Austrália. Foi o próprio Teixeira. “Não quero mais ninguém além do pessoal que conseguiu a vaga para a Olimpíada. Não quero contaminar o grupo.” A ordem foi dada logo após o desembarque depois da derrota da Seleção Brasileira diante do Chile nas Eliminatórias da Copa.
A imprensa mineira foi a primeira a publicar essa informação, nunca contestada por Teixeira. Luxemburgo também não fala de Alex e Ronaldinho Gaúcho, que lhe prometeram que o grupo “não precisava” de jogadores mais velhos. Os dois foram os que mais decepcionaram na Olimpíada. E nem revela que gritou, ainda preleção, antes da partida contra Camarões, que o time deveria explorar a ‘linha burra’ de impedimento que os africanos faziam. Mas os atletas não tiveram nervos para fazer em campo o que haviam combinado no vestiário.
O técnico não quis se alongar sobre a reação da população no aeroporto de Cumbica na sua chegada. Ele escapou por pouco de apanhar. “O que eu tenho a dizer é que lamento muito não ter podido dar uma entrevista coletiva decente, explicar o que aconteceu. Infelizmente, não houve jeito.” Outra vez o treinador poupa a cúpula da CBF. Não houve condições de o treinador da Seleção Brasileira dar entrevistas em uma sala reservada simplesmente porque a entidade não mandou seguranças para proteger o treinador. Se não fosse a iniciativa de seu segurança particular, Francisco Marcelino, o Chicão, que levou sua equipe para Cumbica, Luxemburgo estaria exposto à raiva dos torcedores.
A última conversa que Luxemburgo teve com Ricardo Teixeira foi pouco antes do seu embarque, em Sydney, domingo. O treinador afirma que não houve a demissão. “Conversamos sobre algumas coisas que não deram certo na Olimpíada, mas não fui demitido. Pelo contrário, o doutor Ricardo disse que eu continuaria o nosso projeto para a Copa do Mundo. Por mim, estou trabalhando normalmente, tanto que já sei que o Júnior foi cortado e estamos decidindo outro nome no seu lugar.”
Luxemburgo é inteligente o suficiente para perceber que pode ser demitido. “O meu futuro está nas mãos do presidente Ricardo Teixeira, como sempre esteve. Sigo suas determinações. Ele me chamou para uma reunião no Rio de Janeiro no domingo. Irei para lá e farei o que ele mandar. Gostaria muito de continuar a trabalhar na Seleção. Mas se ele não quiser, está decidido. Mas demissão não peço.”
Apoio de Candinho E Luxemburgo contará com total apoio de Candinho. O auxiliar técnico seguirá o caminho do treinador, se ele for mesmo demitido. “Saí da Portuguesa um dia porque mandaram embora o meu auxiliar. Sou uma pessoa leal. Fui chamado pelo Wanderley para trabalhar com ele na Seleção. Se por acaso ele sair, saio também. Não tem nem o que pensar. Juntos conquistamos a Copa América e vencemos o Pré-Olímpico. Estávamos também unidos quando o Brasil foi mal em Sydney. O Wanderley já sabe que estou com ele para o que der e vier.”
Candinho tem sido companhia constante de Wanderley nesses dias após Olimpíada. Os dois começaram a almoçar ontem por volta do meio-dia e só se despediram às 16h30. “Estamos conversando muito. A nossa ligação é forte. Se coubesse a nós decidir se continuaríamos ou não trabalhando na Seleção, é lógico que diríamos sim. Tanto que estamos nos organizando para dirigir o time contra a Venezuela. Mas somos conscientes que a pressão é muito grande para nos tirar depois da Olimpíada. Só que estamos tranqüilos porque antes todos queriam os meninos na Austrália. Agora que não deu certo, fica muito fácil criticar. Mas futebol no Brasil é assim mesmo. Todos sabem o caminho da vitória quando o jogo acaba.”