Sydney - Cada medalha perdida nesta Olimpíada pode significar de R$ 250 mil até R$ 500 mil a menos na conta bancária de alguns atletas brasileiros. Para os especialistas em marketing esportivo, Leonardo Gryner e Carlos Roberto Osório, alguns favoritos perderam uma grande oportunidade de aumentar seus cachês ou assinar novos contratos.
De acordo com Gryner, um atleta famoso cobra entre R$ 20 mil a R$ 30 mil por um comercial durante três meses. "Com uma medalha esse valor poderia dobrar", anota. "Se conseguisse quatro ou cinco campanhas maiores, a soma dos cachês poderia chegar a R$ 500 mil." Este pode ter sido o caso das duplas de vôlei de praia, do tenista Gustavo Küerten e dos jogadores da seleção de futebol. Todos eram favoritos para a conquista do ouro, mas não conseguiram justificar a expectativa. "Não acho que eles tenham perdido prestígio, mas deixaram de ganhar dinheiro", assinala Osório.
Segundo ele, depois da conquista de uma medalha de ouro olímpica, o atleta agrega um valor muito positivo à sua imagem. "E isso atrai muito a qualquer empresa interessada em associar seu produto a alguém vencedor." Embora com um favoritismo menor, os jogadores e jogadoras do vôlei de quadra também saíram perdendo de Sydney. Basta lembrar dos bons contratos de publicidade que Giovane, Tande, Maurício e Marcelo Negrão fizeram após o ouro conquistado em Barcelona.
"Mesmo para os nomes já conhecidos, a medalha de ouro faz com que eles mudem de patamar e fiquem bem mais valorizados", analisa Osório. Alguns menos famosos, como o atacante Dante, poderiam sair da Austrália com uma grande proposta. "Se ele fosse campeão olímpico, deixaria de ser apenas uma revelação e poderia fazer um grande contrato publicitário ou mesmo uma transferência milionária", cogita Osório.
O prejuízo maior, porém, fica com aqueles atletas menos prestigiados, que poderiam dar um salto neste Jogos. "O vôlei de praia e de quadra, o tênis e o futebol já têm patrocínio e estão estruturados", observa Gryner. "Mas o atletismo, por exemplo, continuará sofrendo com a falta de patrocinadores." Mesmo a natação, que contou com toda a infra-estrutura para chegar a Sydney, poderá sentir os efeitos dos fracos resultados. Contratos, como os obtidos por Gustavo Borges e Fernando Scherer depois de Atlanta, serão mais difíceis agora.
Muito pior fica a situação da saltadora Maurren Maggi e do velocista Claudinei Quirino, cotados para levar uma medalha no salto em distância e nos 200 metros, respectivamente. Claudinei só conseguiu um sexto lugar e Maurren nem completou seus saltos, devido a uma contusão. "Com a projeção de uma medalha, a Maurren poderia fazer uma campanha nacional", lamenta Gryner.
Na avaliação dos dois especialista, com os resultados de Sydney, a natação, o atletismo e até mesmo o judô, que levou duas pratas, terão muitas dificuldades pela frente. "A natação ganhou um bom espaço a partir de Atlanta e agora tinha uma grande chance de melhorar, mas não aproveitou", avalia Gryner.
"Assim também o judô, o atletismo e todos esses esportes que estão consolidados no Brasil sofrem mais nessa hora." Com a mesma opinião, Osório lamenta que muitos atletas bem cotados não tenham conseguido subir no lugar mais alto do pódio. "Para todo o atleta, a Olimpíada é a grande oportunidade de dar um passo à frente", diz Osório. "E essa oportunidade foi desperdiçada."