Sydney - O discurso inflamado do presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), o espanhol Juan Antonio Samaranch, durante a cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Sydney, neste domingo, teve como um dos pontos principais o agradecimento específico aos aborígenes. “Eles ajudaram a escrever um glorioso capítulo na história da Austrália”, comentou Samaranch.
Os Jogos, que mobilizaram o povo australiano nos últimos sete anos (a partir da escolha de Sydney por parte do COI, em 1993), outorgaram o impulso e o respaldo popular do programa - que foi oficializado pelo primeiro-ministro John Howard, ano passado - de reconciliação de todas as etnias presentes no país.
A disposição do governo e povo australianos em usar o espírito olímpico em favor da reconciliação ficou evidente devido à maciça participação de artistas aborígenes, até então discriminados desde a chegada de colonizadores ingleses no país da Oceania, nas cerimônias de abertura e fechamento da Olimpíada de Sydney-2000. O símbolo desta reconciliação histórica é a atleta australiana Cathy Freeman (descendente de aborígenes), ouro na prova dos 200 metros que, além de ter acendido a tocha olímpica, é hoje idolatrada por toda a população australiana como um exemplo de cidadã e esportista.
A história da relação entre os aborígenes e os colonizadores europeus, no entanto, é marcada por abusos, violências e derramamento de sangue. Hoje, mais da metade dos descendentes deles - que são o povo originário da Austrália -, infelizmente, convive com o fantasma do desemprego. Em uma recente entrevista, o líder aborígene Geoff Clark se queixava de que, durante os Jogos, as autoridades fizeram questão de divulgar amplamente a moda e os costumes deste povo, sem citar, porém, suas reivindicações.
Após a confraternização ocorrida neste período de competições esportivas, espera-se que o processo de reconciliação seja concretizado o quanto antes, ou pelo menos que o problema de discriminação racial na Austrália seja minimizado.