Suzuka - Se dependesse apenas do retrospecto dos confrontos entre McLaren e Ferrari, Mika Hakkinen poderia ficar tranquilo: o Mundial não só não acabaria no Japão, domingo, como ele reverteria a vantagem de oito pontos de Michael Schumacher. Pode parecer incrível, mas nas cinco vezes em que os pilotos da McLaren e da Ferrari se enfrentaram numa prova decisiva do campeonato, o título sempre ficou com a McLaren.
Cada edição do Mundial tem sua história, independente das demais. E desta vez os 88 pontos de Schumacher diante dos 80 de Hakkinen, restando apenas as corridas de Suzuka e o GP da Malásia, dia 22, os deixam numa posição confortável para ser campeão. Schumacher não tem de pensar em vencer como Hakkinen, por exemplo. Pode fazer a sua corrida de acordo com o desempenho do finlandês.
Mas é bom o alemão mirar-se nos exemplos de 1974, 1976, 1990, 1998 e 1999. Em todos esses anos um piloto da Ferrari enfrentou um da McLaren e levou a pior. Em 1974, por exemplo, o suíço Clay Regazzoni, do time italiano, desembarcou nos Estados Unidos com 52 pontos, líder da classificação, enquanto Emerson Fittipaldi, da McLaren, somava 48 pontos. Era a última etapa da temporada, em Watkins Glen. Com seu quarto lugar e o abandono de Regazzoni, Emerson ficou com o título. Havia dez anos que John Surtees dera à Ferrari seu último mundial de pilotos.
Até hoje há italianos que não perdoam Niki Lauda pela "amarelada" no GP do Japão de 1976. Ele e o inglês James Hunt, da McLaren, disputaram o campeonato até a corrida de encerramento do ano, no autódromo Monte Fuji, em 24 de outubro. Lauda tinha 68 pontos e cinco vitórias, ao passo que Hunt possuía 65 e seis vitórias. Na hora da largada caiu uma chuva de impressionar a todos.
Alguns, como Lauda, se impressionaram demais e recolheram o carro para o box, deixando o caminho livre para Hunt ser campeão. O piloto da McLaren chegou em terceiro. Bastava para Lauda classificar-se em quinto, nesse caso, para garantir o bicampeonato. Afetado com o acidente que quase o matara em 1.o de agosto daquele ano, Lauda optou pela segurança de ver a corrida dos boxes em vez de tentar ser campeão do mundo novamente, debaixo de forte chuva.
"Há vezes em que as corridas terminam seis voltas antes do fim; em outras, na primeira curva", afirmou Ayrton Senna, da McLaren, em 1990, depois de deliberadamente provocar o acidente que o tirou do GP do Japão, junto com Alain Prost, da Ferrari, logo depois da largada. Com isso, ele manteve seus 78 pontos e o francês 71. Como também era a última etapa da temporada, Senna foi campeão. No ano anterior, Prost fez a mesma coisa a seis voltas da bandeirada, ao tocar rodas com Senna.
A era Michael Schumacher na Ferrari como postulante ao título em duelo com um piloto da McLaren começa em 1998, também em Suzuka. A vantagem era de Mika Hakkinen, do time inglês, que tinha 90 pontos diante de 86 do alemão. Já na largada as coisas ficaram difíceis para a Ferrari, quando Schumacher deixou o carro morrer e caiu para último no grid. Depois um pneu estourado o deixou no meio da pista, confirmando o primeiro título do piloto da McLaren.
A história de vitórias da atual escuderia da Mercedes sobre a da Fiat prosseguiu ano passado e não para variar, na mesma pista japonesa, em Suzuka, de propriedade da Honda. Desta vez o confronto era entre Eddie Irvine, companheiro de Schumacher, e Mika Hakkinen. A vantagen do norte-irlandês era respeitável, 70 a 66. Hakkinen teria de descontá-la apenas no GP do Japão, último do ano.
Para manter a invencibilidade da McLaren diante da Ferrari, o finlandês chegou em primeiro e Irvine foi terceiro, conquistando o bicampeonato e impondo uma goleada de 5 a 0 nos italianos em provas decisivas do Mundial. Agora Schumacher tem nova chance de não só romper a série de 21 anos sem títulos de pilotos da Ferrari na Fórmula 1 como de quebrar o tabú de a Ferrari não superar a McLaren em corridas que definiram o campeão do mundo.