Brasília - Para o bicampeão mundial e maior lateral-esquerdo do futebol brasileiro, Nilton Santos, a seleção brasileira não consegue colocar medo em mais ninguém, como antigamente. "Não existem fantasmas passa assustar", diz ele. "Este time é muito feio."
Para Nilton Santos, ao invés de um único técnico, o time do Brasil poderia ter uma comissão de técnicos em atividade. Citando o exemplo de Garrincha, que em 1958 foi reprovado por um psicólogo, Nilton Santos afirma na entrevista exclusiva para a Agência Estado, que este tipo de profissional não deve integrar a seleção, preferindo que a função seja ocupada por um conselheiro, também um ex-jogador.
Agência Estado - O ex-jogador Tostão considera a atual seleção como uma das piores que o Brasil já teve. Você concorda com isso?
Nilton Santos - Esta seleção é muito feia. Eu não me lembro de nenhuma outra desta natureza. O próprio Luxemburgo chegou a falar que não sabia se o Rivaldo iria jogar na frente ou atrás, não há marcação, cobranças.
No meu tempo, no de Pelé, do Zico, eles sempre puxavam a marcação e sobrava sempre alguém. Mas hoje ninguém quer saber de nada, só fazem isso na vida e ainda errado. Até lateral estão batendo errado. É absurdo temer a Venezuela e perder de um time de nove jogadores (Camarões).
AE - O que você acha do Luxemburgo, ele é um bom técnico?
Nilton - Eu gostava dele por um motivo: ele foi jogador de futebol.
Sou a favor disso, mesmo que a pessoa tenha sido um jogador ruim. Se o técnico da Seleção fosse o Parreira (Carlos Alberto Parreira, técnico do Atlético Mineiro), iria sugerir que tivesse ao seu lado o Zagallo, que foi jogador de futebol.
AE - Quem seria hoje o técnico ideal para seleção brasileira?
Nilton - O ideal seria reunir um grupo deles, como o Levir Culpi, o Luiz Felipe Scolari, e muitos outros bons técnicos que estão por ai, e formar uma comissão. Isso sim é comissão técnica. Hoje inventaram até "fazedor de cabeça" na seleção (refere-se aos psicólogos) que nunca jogaram futebol na vida. Por que não levaram o Tostão ou o Sócrates, que atuam na área médica e foram jogadores brilhantes? Os dois seriam ótimos conselheiros.
AE - Então você é contra os psicólogos na Seleção?
Nilton - Até que se prove ao contrário, sou. Por exemplo, em 1958, o Garrincha foi reprovado num teste quando o psicólogo pediu para ele desenhar um boneco e fazer uma história. O Garrincha desenhou um homem com a cabeça grande e disse que ele era o Quarentinha (então lateral esquerdo do Botafogo). Ai o psicólogo me disse: Nilton, esse homem jamais poderia jogar futebol. Garrincha arrebentou na Copa de 58.
Prefiro um conselheiro do que psicólogo, principalmente mulher, que inibe o jogador.
AE - Não levar o Romário para a Austrália foi um erro do Luxemburgo?
Nilton - Claro. O Romário poderia ter 200 anos, mas é quem está fazendo gol hoje no Brasil. Se no meu time tivesse, por exemplo, um jogador cachaceiro, mas goleador, eu compro a cachaça, mas quero vê-lo fazendo o gol. A safra atual de jogadores da seleção não é uma das melhores, não há mais fantasma para assustar ninguém, como o Santos de Pelé. O Ronaldinho assustava, mas se machucou.