São Paulo - Se há dois técnicos felizes no Brasil, hoje, são Émerson Leão, na Seleção Brasileira, e Lula Pereira, da Portuguesa. E, se for para escolher um, fique com o da Portuguesa.
Luiz Carlos Bezerra Pereira, cearense de 46 anos, está nas nuvens. A sua Portuguesa ganhou três e empatou um dos últimos quatro jogos e credenciou-se como candidata à uma das 12 vagas para a segunda fase da Copa Havelange.
A primeira meta da vida de Lula foi alcançada. Desde que abandonou a carreira de zagueiro do Ceará, em 86, decidiu ser técnico. E dos bons.
"Estou em um grande time do futebol paulista. Rompi a barreira dos grandes clubes", comemora.
Agora, barreira vencida, os sonhos são livres para Lula Pereira. "Assinei um contrato de seis meses, coisa que ninguém aceita. Tinha confiança no meu trabalho e queria mostrá-lo. Tenho certeza de que estava certo. A próxima meta é classificar a Portuguesa. Os outros sonhos, vamos cumprindo com o tempo".
E a barreira tem a ver com racismo? "Você acha que é isso? Então, você fala e escreve. Eu não. Quem fala em racismo se dá mal".
Lula não aceita que a Portuguesa seja um "trampolim" para outros clubes.
"Nada disso. Estou muito feliz aqui. Foi um grande passo na minha carreira e posso conseguir outros, sem dúvida".
O início na Portuguesa foi duro. Sem contratações, o time não engrenava e as pressões para a demissão de Lula foram muito grandes. "Só agüentei porque estava preparado para isso. Sabia que a vida é difícil em um time grande e posso garantir que muita gente teria pedido demissão ao sofrer metade da pressão que sofri".
Para arrumar o time, Lula contou com as contratações de Irênio, artilheiro da equipe, que veio do América-MG; Júlio César, lateral do Botafogo de Ribeirão Preto; Lúcio, do Flamengo, e Cléber, do Coritiba, que está contundido. Contratações que deram certo.
"A Portuguesa é um time que não gasta muto em contratações, não é um time comprador. Então, tem que planejar, organizar e colher. E uma das coisas que me orgulho é de conhecer jogadores no Brasil todo. Sei alguma coisa de cada jogador de cada time. A gente não podia errar e não errou".
Quem vê Lula Pereira à beira de campo, em dia de jogo - negro enorme, gritando e vibrando sem parar - pode pensar em uma nova versão de Serginho Chulapa, que chegava a ameaçar jogadores para conseguir um bom rendimento.
Estará enganado e cometendo uma injustiça.
"Parece que eu estou ofendendo, mas estou incentivando. Sou homem de diálogo, estou preocupado com a vida pessoal dos garotos. Se vejo alguém triste, pergunto o que está acontecendo, dou conselho, digo para não brigar com a namorada, para não se afastar da família. Não trato jogador como robô.
Estou lidando com seres humanos".
Há poucos dias, Lula reuniu os jogadores da Portuguesa e, dirigindo-se a um deles, pediu desculpas por tê-lo "abordado" de maneira errada. O ato, nada comum entre treinadores, causou emoção a todos que ouviram e viram. "Preciso da confiança dos jogadores para conseguir colocar em prática o que estou desejando".
Ocupando espaços Para explicar o que pensa do futebol, Lula capricha no vernáculo.
Fala de maneira empolada. "É preciso conseguir superioridade numérica a partir da criação ou da ocupação de espaços. E, com a bola dominada, aposto na qualidade do envolvimento dos meus jogadores". Ou, resumindo, marcação sobre pressão, roubadas de bola e bons passes. "Sou um autodidata em motivação e faço com que os jogadores se dediquem a conseguir o que planejamos durante a semana".
O estilo Lula de dirigir não dispensa um conhecimento grande sobre o adversário. Ele sabe como o goleiro adversário se coloca em campo, como o zagueiro erra e dá esses subsídios aos seus jogadores. "Lembra em 98 quando eu estava no Rio Branco e a gente ia jogar contra o Santos? Falei para o pessoal chutar forte porque o Zetti estava soltando bolas? Falei que a gente podia fazer um gol assim de rebote, não falei? E fizemos o gol, não fizemos?.
É verdade. Tudo isso aconteceu. E cada pergunta dessas é acompanhada de um pequeno murro no repórter, já elevado ao status de "mano velho". Dá para imaginar como Lula era como zagueiro. Pancada e mais pancada. "Negativo. Eu era bom, todos me chamavam de Luís Pereira do Nordeste. Uma vez, pelo Sport, marquei o Pelé e ganhei prêmios de melhor em campo. Só que até hoje as tevês passam o gol que ele fez. Não posso fazer nada".