São Paulo - Apesar da vergonhosa campanha do Corinthians na Copa João Havelange, o conformismo domina o Parque São Jorge. Nenhum protesto dos torcedores, jogadores tranqüilos davam explicações como se o time não estivesse em 23º lugar no Campeonato Brasileiro, acumulando dez derrotas em 17 partidas, com apenas dois pontos a mais que o lanterna Santa Cruz.
A Comissão Técnica, no entanto, está assustada. Foi descoberto um dos principais motivos do fracasso corintiano que tornou nulas as chances de classificação: o preparo físico.
As fichas que o preparador de Vadão, técnico anterior, Walter Grassman, denunciam um gravíssimo erro: o time foi preparado fisicamente como se fosse pequeno, que iria disputar no máximo 40 partidas no ano, como o Mogi Mirim, por exemplo. No Corinthians são mais de 70.
O preparador Antônio Mello ficou completamente constrangido ao saber que o JT teve acesso aos dados. Sem saída, ele ainda tentou defender o colega. "Não vou negar que o estágio físico está ruim, mas não vou queimar ninguém. Não quero entrar em detalhes. Não posso."
Mas o que ocorre é grave. E facilmente explicável. Os jogadores estão com ótimo preparo para correr longas distâncias. Falta explosão muscular. Ou seja: estão mais preparados para correr maratona do que para disputar uma partida de futebol.
Sem explosão Depois de muita insistência e sem ter como fugir das evidências, Mello se rende: "O nosso time não tem explosão muscular. É uma equipe lenta, que está tentando reagir diante de adversários mais fortes fisicamente que nós. Sem velocidade. Os jogadores não estão acomodados ou `de sacanagem'. O que está faltando é força mesmo. Acho uma pena porque falta muito tempo para a João Havelange acabar e esse trabalho de recuperação não é feito de uma hora para outra."
As evidências físicas desse preparo equivocado podem ser observadas por um especialista. Em todas divididas os jogadores corintianos chegam atrasados.
"Os adversários percebem isso. Os do Fluminense sentiram isso, tanto que tiveram coragem de marcar a nossa equipe no nosso campo e no Pacaembu. Esse atrevimento tem uma explicação física", avisa Mello. O preparador começou a trabalhar muito forte ontem com os reservas. A mudança de metodologia foi total. Nada de o time ficar correndo longas distâncias ao redor do gramado. Os atletas tiveram de dar uma série de piques curtos.
Três seguidas Enquanto isso, Candinho mostrava também muita preocupação. Pelo time que tem nas mãos e que já perdeu três partidas seguidas. "Sabia que seria difícil, que o Corinthians estava mal. Mas nem tanto. O time está sem força física, com os principais jogadores machucados. Não tenho peça de reposição. Fica difícil fazer pizza sem mussarela."
O treinador sentiu que sua promessa de colocar o Corinthians para jogar na defesa de agora em diante "como o Juventus" pegou muito mal. E procurou outra imagem para definir como sua equipe está na competição. "O Corinthians é um pugilista que está disputando uma luta em dez assaltos e perdeu feio os oito primeiros. Só tem uma chance de se recuperar, jogando no ataque. Já não tem mais o que perder, perdeu demais."
Candinho não assume mais a briga pela classificação, luta para fugir da última colocação na João Havelange. E a tabela não é nada favorável à equipe. Amanhã enfrentará o Sport no Recife, Internacional, em Porto Alegre, e Cruzeiro, em Belo Horizonte. "Vai ser duro, mas temos de reagir. Não adianta a equipe ficar com frescura e com medo. Vamos para cima e ver no que dá. Meu trabalho é a longo prazo, havia avisado à Diretoria", relembra Candinho.
O jogador mais visado pela torcida pediu ontem para não sair do time. "Sei que defesa que leva 31 gols num campeonato tem alguma coisa de errado. Mas eu não quero sair agora. Não quero ser preservado", protesta João Carlos.
Marcelinho Carioca, tranqüilo, dizia que estava muito feliz com o interesse do Cruzeiro no seu futebol. "É muito bom ter um clube grande interessado em me levar para disputar a Libertadores. Ainda mais jogar tendo o Luiz Felipe como treinador. Só que antes preciso reagir com o Corinthians", diz, sem convicção.