São Paulo - Um advogado carioca e ex-conselheiro do Vasco denuncia: o clube tem "Caixa 2" para encobrir parte do dinheiro das negociações. E acusa Eurico Miranda de enriquecer com negócios ilícitos no esporte. Levi Lafetá é conselheiro do Vasco e foi advogado de Bebeto na época da transação para o La Coruña, em 1992. Faz acusações contra Eurico Miranda e o Vasco e enviou ao Senado a cópia da ata da reunião de 5 de janeiro de 1994, do Conselho Deliberativo do clube.
No documento ao qual o JT teve acesso, o presidente da Diretoria Administrativa, Antônio Soares Calçada, instrui o contador para colocar à disposição do Conselho toda a documentação do clube, até extratos de contas correntes e dados "extra-caixa" - "nome que eles criaram para o Caixa 2", segundo Levi.
O senador José Eduardo Dutra (PT-SE), da CPI que investiga o futebol, viu o documento e disse que precisa ser investigado: "É lógico que tem de ser comprovada sua veracidade, mas isso pode explicar o porquê do Eurico Miranda batalhar tanto para que a CPI não investigue o Vasco. Mais uma razão para que ele venha depor na Comissão."
Dutra lembrou que a ata pode ser o primeiro passo para serem quebrados os sigilos bancários do Vasco e de Eurico Miranda. "Temos de investigar esse caso a fundo. Já existem indícios de irregularidades envolvendo o Vasco no Banco Central", disse o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT).
Levi está disposto a ir à CPI para detonar denúncias contra Eurico: "Ele começou como preparador físico e está com uma fortuna absurda, adquirida com negociações de jogadores." O advogado diz que a primeira vez que Eurico ganhou dinheiro com transação de atletas foi quando Dunga passou pelo clube, em 1987. "Sou sócio do Vasco e perguntei para ele uma vez onde estava o dinheiro da venda do Dunga. Não tive resposta."
Levi participou da transação condenada pelo BC em que o Vasco vendeu Bebeto para o La Coruña. Segundo o advogado, o Vasco lucrou US$ 2,5 milhões, mas declarou à CBF e à Receita Federal apenas a metade. "Não recolheram imposto de renda sobre o resto da transação."
Na quarta-feira, o deputado reagiu ao requerimento aprovado pela CPI pedindo seu depoimento. "Não vou. Isso é um problema sexual do presidente da CPI do Senado e de alguns dos outros membros", disse.
Eurico será um dos alvos principais da CPI do Senado. Vários membros estão interessados em uma devassa nas contas do dirigente e do Vasco. Líder de uma tropa ligada a clubes e Federações, Eurico barrou a investigação dos clubes na Câmara. No Senado, a situação é diferente.
Para saber
Nesta quinta-feira, em São Paulo, o Clube dos 13 reuniu-se para discutir sobre a Copa JH, calendário de 2001 e CPI. O presidente Fábio Koff anunciou que "a associação vai contratar um escritório de advocacia para examinar os aspectos de constitucionalidade da CPI no que tange aos clubes". Quer confimar se o governo pode agir sobre uma entidade privada.
Eurico Miranda foi radical: "Se isso continuar, os clubes vão parar." Segundo ele, o escritório é só um passo. "Querem desmoralizar a instituição clube. Se insistirem, paramos antes do campeonato acabar." Koff contemporizou: "A questão foi objeto de discussão. Não de decisão."