São Paulo - Jogar em um clube grande, atualmente, parece sinônimo de riqueza e muita mordomia. No Palmeiras, porém, vários atletas chegam a passar por dificuldades e têm salários insignificantes, como Rodrigo Taddei e Thiago Matias, que recebem, por mês, pouco mais de R$ 1 mil.
Para eles, a vitória significa a sobrevivência e uma tranqüilidade para pagar as contas no fim do mês. A diretoria alviverde paga R$ 1.200,00 pela vitória e R$ 600,00 pelo empate, valor superior ao salários de muitos jogadores.
O volante Taddei, de 20 anos, vive com a mãe, na Zona Norte, em São Paulo, e tem de pagar todas as contas da casa. Apenas com o salário, não teria condições de cumprir todos os compromissos, porque não conta com a ajuda de ninguém. A mãe está desempregada. "Se não fossem os bichos, passaria por dificuldades." O jogador vai aos treinos de ônibus ou pega uma carona com alguns companheiros mais ‘abonados’. Ainda não conseguiu comprar um carro.
Entre o fim de setembro e o início de outubro, os palmeirenses mais humildes puderam pagar todas as despesas e dívidas. A seqüência de bons resultados rendeu quase R$ 10 mil ao bolso de cada um.
Foram dois empates e quatro vitórias pela Copa João Havelange e duas vitórias na Mercosul. "Com os bichos, consegui dar uma casa para os meus pais (em São José do Rio Preto) e comprar um carro", conta o atacante Juliano, de 19 anos. "Só com o salário seria impossível."
Em 17 de outubro, o zagueiro Thiago Matias completou 18 anos. No dia de seu aniversário, a pergunta de muitos amigos e repórteres era a seguinte: "Que carro vai comprar?" Ele não gaguejou ao responder. "Ainda é cedo, não tenho dinheiro para comprar um. Meu primeiro é dar uma casa para os meus pais."
Quem entrasse no estacionamento do Centro de Treinamento do Palmeiras há um ano ou mesmo no primeiro semestre, veria uma exibição de carros importados de grande luxo. Eram altíssimos os salários de Paulo Nunes, Oséas, Júnior, Alex e Zinho, entre outros. Hoje, a situação é diferente. Veículos nacionais e mais simples são maioria. As exceções são o goleiro Marcos, o lateral Arce e o volante Galeano, que têm muita experiência.
O reflexo da humildade do atual time do Palmeiras pode ser visto na reação dos próprios torcedores. Ao contrário do ano passado, quando chegava a haver tumulto, hoje, as arquibancadas do CT ficam praticamente vazias nos dias de treinamento. "Não temos trabalho, porque não vem quase ninguém assistir aos treinos", diz o segurança Daniel Ribeiro, funcionário há três anos.