Porto Alegre - Está lá na página 450 do Guia dos Craques, da revista Placar, publicado em julho deste ano: “Zé Mário, marcador tipo carrapato, facilidade de jogar de primeira, boa visão de jogo e ótima colocação”.
O Zé Mário jogador é a cara do Inter do Zé Mário técnico. Neste domingo, no Beira-Rio, contra o Vasco dos Juninhos, de Viola e Pedrinho, a torcida não conta com a precisão de um goleador nem com a genialidade de um meia. O craque do time é a defesa, que evita e marca gols.
Há 10 meses Zé Mário molda a equipe à sua imagem. Implacável na marcação, coeso, disciplinado taticamente e veloz. Não é à toa que o time ostenta a melhor defesa do Nacional. Sofreu 19 gols em 19 jogos. Sem estrelas para desequilibrar, o técnico aposta na coletividade. O segredo? Nunca deixar companheiro em disputa individual com o adversário.
"Não temos grandes talentos individuais, a diferença é a união, a forma como todos se ajudam em campo", argumenta Lúcio, por coincidência, o maior destaque do time.
Sem gritos, sem gestos teatrais e com muita conversa, Zé Mário cativa jogadores e cala críticos. Seu comando é inegável no vestiário. Quando preciso, fala firme. Exaltou-se apenas em duas ocasiões este ano. No intervalo diante do América, no Mineirão, e contra o Santa Cruz, no Beira-Rio. Sem gritos, foi um “puxão de orelhas”, diz o lateral Dênis.
"Ele não é explosivo, é exigente", define Diogo.
Zé Mário é exceção entre os técnicos. Poucos se seguram na hora da tensão. Paulo Autuori, por exemplo. Elegante, refinado, português impecável, ele perdeu a compostura em um jogo do Gauchão no ano passado. Revoltou-se contra a apatia do time e acertou um bico na porta do vestiário. Saiu mancando diante de jogadores atônitos. À noite, no jantar, confessou: havia machucado o pé.
Quem assistiu ao início dos trabalhos do Inter em Santa Catarina no início do ano, jamais imaginaria que dali sairia um time competitivo. Em vez de reforços, havia jogadores desacreditados. Criterioso, Zé Mário montou uma equipe lutadora, solidária.
O Inter chega para a partida contra o Vasco lamentando a falta de poder ofensivo e festejando a performance da defesa. O gol de Lúcio contra o Corinthians foi o sétimo neste campeonato.
Só a defesa do São Paulo supera a do Inter. Marcou nove gols – três de Rogério Ceni, o Ronaldinho de luvas. Por enquanto, João Gabriel se restringe a pequena área. Mas Hiran atravessou o campo para bater uma falta no Gre-Nal. Como costuma repetir Zé Mário, futebol é coletivo.
Opinião
"O Zé já estava nos profissionais quando subi e me ajudou muito. Esse espírito coletivo dele podemos observar nas equipes que treina. Quando jogador, tinha ótimo desarme, excelente posicionamento e não dava pontapé. Jogava na intuição, num tempo em que se usava apenas um volante. Não tinha físico, mas compensava com velocidade e agilidade" - Júnior, jogou com Zé Mário no Flamengo e contra ele nos clássicos com Vasco e Fluminense
“Eu acho difícil comparar o Zé Mário com a equipe que ele treina até pelas características da época. O Fluminense dele era bastante ofensivo, e o Zé Mário era marcador que sabia sair pro jogo. Nunca foi de muita chegada, de ir direto ao gol, mas sabia armar jogada, tinha um passe muito bom e marcava muito bem. Não era como alguns jogadores atuais que são apenas marcadores. O grande mérito dele como técnico está sendo fazer um bom trabalho com o que ele tem à disposição.” - Paulo César Carpeggianni, jogou no Inter de 1975, time com menor média de gols sofridos na história do Brasileirão, e jogou na histórica semifinal da Copa Brasil entre Fluminense e Inter, contra Zé Mário.