Belo Horizonte - O desespero já tomou conta da equipe de futsal do Atlético. Sem verem a cor do salário há cinco meses (ou três, conforme a diretoria), jogadores e comissão técnica admitem que o clima no clube é insustentável. Um exemplo disso aconteceu no último sábado, quando o fixo Júlio César recusou-se a entrar em quadra, para o jogo contra o Olaria, no ginásio do Colégio Magnum, alegando que estava sem condições psicológicas.
“Bateu o desespero. A minha família não está comigo em Belo Horizonte, e sim em Videira, Santa Catarina. Com toda esta crise que vive o clube, pedi para ir embora para casa. Acabei não jogando, porque receava ter uma contusão", explica o jogador, que, no domingo, na partida contra o Flamengo, aceitou jogar após conversar com o supervisor do Atlético, Atílio Dias, que adiantou que o clube poderia receber verba da TV Globo.
A campanha irregular do Atlético na Copa Embratel (torneio que reúne clubes de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais), não conseguindo passar da primeira fase, é um reflexo do clima de instabilidade que tomou conta da equipe. “A falta de pagamentos pesou na desclassificação sim, pois, sem salários, o jogador joga sem motivação", concorda José Roberto Carvalho, diretor de esportes especializados do Atlético.
Carvalho afirma que tem se ausentado dos treinos e dos jogos, porque sempre ouve a mesma reclamação da equipe: falta de dinheiro. Júlio César observa que a situação prejudicou a programação deste ano do Atlético, que, apesar dos problemas, foi vice-campeão da Liga Futsal. “Desde o início do ano, com a pré-temporada, nosso trabalho foi totalmente atropelado por questões internas do clube", reclama o fixo.
O jogador, nascido no Rio de Janeiro e o mais experiente do grupo do Atlético, com 34 anos, ressalta que admira muito o trabalho da comissão técnica, citando o técnico Milton Ziller, o Miltinho, e o preparador físico Rogério Mancini, mas lamenta que, “por questões administrativas, será difícil pensar numa permanência, já que o clube não tem condições de colocar nada para o futsal efetivamente".
Júlio César adianta que já foi procurado por Atílio Dias para que continue no clube no próximo ano, mas considera difícil conversar sobre assunto quando há um atraso de cinco meses nos salários. “Como posso falar em janeiro se não sei se receberei julho. Lamento isso porque gostei muito da cidade. Já passei por várias equipes do país e considero que Belo Horizonte é um lugar muito agradável para se viver".
Jogadores temem não receber o que clube deve
Apesar da insatisfação por causa dos salários atrasados, Júlio César pretende cumprir o seu contrato até dezembro. O pensamento é o mesmo entre jogadores e comissão técnica, segundo José Roberto Carvalho. “Vamos jogar o Estadual e tentar conquistas esse título que nos resta", garante Júlio César, que já está sendo sondado por outras equipes.
Além da questão salarial, a reclamação mais constante é a falta de diálogo por parte dos dirigentes do clube. A desinformação e, por conseqüência, a ansiedade, é muito grande. “Pela atual conjectura, acho difícil recebermos tudo o que o Atlético nos deve, como 13º e outras coisas. Espero receber, pelo menos, pelo que trabalhei", afirma o fixo.
As informações que o jogador tomou conhecimento dão conta que a prioridade do clube é o time de campo e, por causa disso, Júlio César teme que qualquer verba que entrar será passada diretamente para o outro departamento. “A informação que tenho é que o clube está negociando com a Rede Globo, mas receio que possamos ficar em segundo plano".
O jogador afirma que a última reunião da diretoria com os jogadores aconteceu há três meses, quando estavam com um mês e meio de salário atrasado. “De lá pra cá, a situação piorou e o que ficamos sabendo é através da Imprensa. Não nos é dada satisfação do que está acontecendo realmente. Falta este canal de comunicação", observa.
O técnico Miltinho está esperando ser convocado pela diretoria para passar um relatório do ano e enumerar os problemas vivenciados pela equipe. “Prefiro, primeiramente, passar a minha opinião para a diretoria e seus supervisores, para depois fazer meu pronunciamento à Imprensa. Mas, com certeza, vocês não ficarão sem ela", assevera.
Miltinho adianta que cumprirá seu contrato até dezembro, continuando à frente do Atlético no Campeonato Estadual. O time mineiro está nas semifinais da competição, a partir do próximo dia 11. Sobre a má campanha na Copa Embratel, o técnico observa que a equipe pagou o preço por uma série de fatores. Também prefere não revelar quais, mas certamente está a questão dos salários atrasados.
Dirigente 'convida' insatisfeitos a fazer rescisão
O assessor da presidência do Atlético, Hissa Elias Moisés, maior incentivador da permanência da equipe do futsal, garante que os salários atrasados serão pagos até o próximo mês. Frisa também que não existem privilégios para o futebol de campo e que todos os funcionários e contratados do clube estão sem receber há três meses.
“O futsal não será prejudicado. O dinheiro que entrar será dividido proporcionalmente entre todos os setores do clube", afirma Moisés. O assessor ressalta que o Atlético está buscando receber adiantamentos da Rede Globo e do Clube dos 13, referentes ao campeonato brasileiro do próximo ano, para amenizar a crise financeira.
Sobre as reclamações de jogadores da equipe de futsal, Hissa Elias Moisés pondera que os “eles, pelo salário que ganham, podem aguentar três meses sem receber que não vão morrer por causa disso; já o funcionário do clube, que recebe apenas R$ 300, este sim tem todo o direito de chiar e reclamar de problemas psicológicos".
O assessor “convida" os jogadores que se dizem insatisfeitos a procurar a sede do clube para fazer a rescisão do contrato. Moisés ainda não tinha conhecimento, até a tarde de ontem, sobre a atitude do jogador Júlio César no jogo de sábado. “Ainda não recebi qualquer relatório do diretor de esporte especializado a respeito desse assunto", afirma.
O assessor adianta que a equipe de futsal continuará no próximo ano, mas que, sem patrocínio, deverá ter “uma realidade condizente com a situação do Atlético". Dessa forma, os jogadores mais caros, como o goleiro Rogério e o ala/pivô Lenísio, poderão deixar o clube. Atualmente, a folha de pagamento da equipe é de R$ 120 mil.
Moisés cita o exemplo do São Paulo, “clube que tem recursos infinitamente superiores aos do Atlético", que desfez de todos os profissionais da equipe de futsal, ficando apenas com os juvenis. O Atlético só manteria a equipe se conseguir patrocínio até o final deste ano.