Brasília - Um café da manhã na Academia de Tênis serviu de aquecimento do ex-presidente da Fifa João Havelange para o depoimento na CPI da Nike, ontem. Integrantes da comissão que fazem parte da chamada tropa de choque da CBF estavam presentes: os deputados Darcísio Perondi (PMDB-RS), Luciano Bivar (PSL-PE), Ciro Nogueira (PFL-PI) e José Mendonça Bezerra (PFL-PE). Do encontro também participou o deputado Joaquim Santos Filho (PFL-PR), que é um dos vice-presidentes da CBF.
Bivar ajudou Havelange a se preparar para eventuais perguntas que apareceriam na comissão, relatando denúncias levantadas contra o ex-presidente da Fifa. O deputado diz ter dado as informações enquanto se solidarizava com Havelange. Os participantes do café tentaram evitar que o encontro fosse caracterizado como uma prévia do depoimento na CPI. "Foi uma homenagem ao velho", desconversou o diretor de Relações Legislativas da CBF, Vandenbergue Sobreira Machado. "Fizemos uma recepção, um gesto de elegância", definiu Perondi. Quando perguntado se discutiram a CPI, resumiu:
"Falamos de futebol.
Sessão - Já na primeira resposta ao relator da CPI da Nike, Silvio Torres (PSDB-SP), o ex-presidente da Fifa, João Havelange, liquidou qualquer possibilidade de dar informações sobre o contrato da Nike com a CBF. "Nunca vi o contrato, nunca li", afirmou Havelange, acrescentando ainda que, se tivesse de analisar todos os contratos de seus quase 200 afiliados, não trabalharia. O dirigente recebeu então uma cópia do deputado Ronaldo Vasconcelos (PFL-MG).
No único comentário que fez sobre o contrato, o dirigente afirmou que, aparentemente, o Brasil fez um bom negócio. Segundo ele, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, conseguiu uma soma maior de dinheiro do que outras confederações nacionais de prestígio que assinaram contrato com a Nike e merecia aplausos. Discordando da tese de que o futebol brasileiro está em crise, o presidente de honra da Fifa entregou papéis sobre o desempenho da seleção, que lidera o ranking da entidade.
O relator Torres, o primeiro a aparecer ontem ao plenário da CPI, reclamou:
"Se ele não leu o contrato, não tinha motivo para estar aqui." Ele avaliou que o depoimento de Havelange "não acrescentou absolutamente nada" para efeito do relatório. E ficou surpreso de o ex-presidente da Fifa desmentir ter dado entrevista a um jornal paulista comentando o contrato, publicação lida pelo relator. Defensores da CBF na comissão, no entanto, argumentavam após a sessão que o relator não tinha como cobrar Havelange, porque não havia enviado cópia do contrato quando fez o convite para o depoimento.
Ao contrário do relator, o presidente da CPI da Nike, Aldo Rebelo (PcdoB-SP) acredita que se possa aproveitar pelo menos um trecho do depoimento de Havelange, quando ele fala do procedimento adotado pela Fifa para contratos, como o assinado com a Coca-Cola. Ele explicou que há uma espécie de licitação e o contrato passa pela análise de diversos órgãos deliberativos.
Para Rebelo, o mesmo não parece ter ocorrido com a CBF e a Nike.
A sessão da CPI da Nike foi praticamente dominada pelos deputados ligados a clubes que estavam ali apenas para render homenagens a Havelange e os do PT que queriam esclarecimentos sobre denúncias antigas publicadas na mídia.
Indagado sobre sua posição em relação a uma possível reeleição de Ricardo Teixeira, Havelange respondeu que se a assembléia da CBF aprovar, não há porque ser contra. Ao término do depoimento, Havelange foi cercado por fãs que pediram autógrafo e queriam tirar fotos ao seu lado.