CAPA ESPORTES
 ÚLTIMAS
 FUTEBOL
 Últimas Notícias
 Copa JH
 Eliminatórias 2002
 Europeus
 Copa Mercosul
 Chance de Gol
 Estaduais
 Arquivo
 FÓRMULA 1
 AUTOMOBILISMO
 TÊNIS
 BASQUETE
 VÔLEI
 SURFE
 AVENTURA
 MAIS ESPORTES
 COLUNISTAS
 RESULTADOS
 AGENDA



 ESPECIAIS






 FALE COM A GENTE



 SHOPPING



Futebol
ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Dinei deixa o Corinthians prometendo nunca vestir camisa do Palmeiras
Domingo, 19 Novembro de 2000, 01h34

São Paulo – Um jogador chora ao deixar o clube onde atua. Esta cena, difícil de ser imaginada hoje em dia e que remete às decadas de 50, 60 e 70, quando os atletas costumavam iniciar e encerrar a carreira no mesmo time e lá jogavam pelo prazer de vestir a camisa, foi protagonizada durante a semana por Claudinei Alexandre Pires, o Dinei, atacante do Corinthians. E a razão é simples: na derrota para o Flamengo (4 a 1), quinta-feira, no Pacaembu, vestiu pela última vez a camisa alvinegra.

Aos 29 anos, Dinei, que recebeu passe livre da diretoria após declarar que seu ciclo no Parque São Jorge está encerrado, é um caso único de jogador que se tornou mais do que símbolo de uma equipe - mesmo porque isso não é novidade no esporte, basta relembrar nomes dentro do próprio Corinthians, como Rivelino, Basílio, Sócrates e Vladimir. Dinei é um embaixador, uma representação da torcida corintiana. Talvez essa peculiaridade seja a responsável pelo fato de que, em meio ao que muitos consideram a pior crise da história do clube (o atacante discorda e lembra o drama dos 23 anos sem título), ele seja o único poupado da ira da Fiel, que não perdoa dirigentes, jogadores e membros da comissão técnica.

O segredo para isso não é escondido de ninguém. Muito pelo contrário, o ídolo do Corinthians faz questão de destacar que sua conduta humilde e simpática sempre o diferenciou da maioria dos jogadores de futebol. Ele se veste da mesma forma como fazia na adolescência, conversa com as mesmas pessoas e procura, antes de mais nada, ter amigos.

Seu maior orgulho é apontar para a parte superior do distintivo corintiano, onde estão localizadas as quatro estrelas - três menores, simbolizando os títulos nacionais de 1990, 1998 e 1999 e uma maior, em destaque sobre as demais, representando a conquista do Primeiro Campeonato Mundial de Clubes da Fifa, vencido em janeiro deste ano - e dizer que deu sua parcela de contribuição em cada uma delas. "Essa honra e esse feito ninguém vai poder tirar de mim", faz questão sempre de ressaltar.

Porém, nem mesmo sua história e o amor declarado pelo time foram capazes de segurar Dinei no Parque São Jorge. De nada adiantaram os insistentes pedidos da diretoria, sua decisão é mesmo irreversível. Embora se esforce para não revelar, a verdade é que Dinei está frustrado e decepcionado com a direção da equipe e, ironicamente, com a torcida corintiana, a mesma que o elegeu como "o Gavião" do Parque.

Tudo começou no dia 26 de agosto, quando membros da Gaviões da Fiel, durante a reapresentação do elenco que acabara de ser derrotado pelo arqui-rival Palmeiras na semifinal da Copa Libertadores da América, invadiram a área restrita aos jogadores e passaram a ofendê-los de forma contundente. Alguns chegaram a entrar no vestiário para xingar e pressionar os atletas, entre eles Dinei. "É um assunto de que não gosto de tratar, mas dirigiram ofensas pessoais a mim, na frente de todo mundo, e o que aquelas pessoas fizeram eu nunca vou esquecer ou perdoar. Não tem mais papo mesmo", revelou. "Mas é claro que não posso generalizar. Foi uma atitude isolada, e não da torcida do Corinthians." Somado a isso, o "Gavião" diz acreditar que nunca contou com o devido reconhecimento das diversas diretorias do clube. Ele está cansado de não ser valorizado por seu passado e importância no time. Por muitas vezes, em momentos delicados de crise, trabalhou como um autêntico negociador entre a direção e os torcedores. "Nem lembro quantas vezes vieram me pedir para contornar situações com a torcida quando o negócio está quente", alfinetou.

Ele também acha que sua paixão pelo Corinthians muitas vezes chegou a atrapalhá-lo. "A impressão que tenho é de que eles (diretores) acham que o fato de jogar no time do qual sou torcedor é o suficiente para mim", desabafou. "Estou cansado de tudo isso, dessa frustração."

O início - Em 1983, quando morava na Vila Mariana, Dinei tinha um vizinho que era diretor do Corinthians. Após ser visto jogando bola na rua, o garoto foi convidado a participar de uma peneira no Parque São Jorge. Um simples treino foi suficiente para lhe garantir uma vaga na equipe. Porém, não conseguiu tirar-lhe um hábito adquirido recentemente: andar de skate.

Ele pegava o metrô até a estação Carrão. De lá, descia "a milhão" pelas ruas do bairro sobre a prancha, para desespero de seu treinador. Certo dia, foi aconselhado a desistir daquilo. O argumento de seu superiores era de que skate e futebol não eram compatíveis, pois o risco de acidente poderia comprometer seu desempenho no clube. Dinei compreendeu a mensagem e decidiu tomar uma atitude para não misturar as duas coisas: desistiu do futebol.

"Andar de skate era moda na época e não queria de jeito nenhum abandonar a prática", disse.

Dois anos depois ele resolveu aventurar-se novamente nos gramados, indo jogar no São Paulo. No entanto, as constantes ausências nos treinamentos abreviaram sua passagem pelo Tricolor. "Confesso que nunca gostei muito de treinar e ir para a escola. Acho que ter o miolo meio mole é uma característica dos jogadores de futebol", comparou. Apesar dos percalços, Dinei carrega boas recordações dessa época. A maior (e melhor) delas nada tem que ver com o futebol, mas sim com estética. Como todo adolescente, ele era refém dos padrões de beleza. Dono de cabelos naturalmente enrolados, o jovem Claudinei queria torná-los lisos e compridos. Deixá-los crescer não foi o grande problema. Porém, o artifício utilizado para alisá-los era questionável.

Quantidades consideráveis de óleo de soja (o mesmo utilizado na fritura de alimentos) eram espalhadas por toda a cabeça, sobretudo no topete. A situação ficava complicada nos dias com temperatura mais elevada. "Só sei que aquilo tudo começava a escorrer pela minha testa e pingar. Minhas camisetas ficavam todas manchadas pela gordura", lembrou. As oleosas madeixas perduraram até 1989, quando seus companheiros de equipe decidiram por um fim àquela situação.

Corinthians - Superada a fase do skate e do óleo, em 1986 Dinei resolveu que gostaria mesmo de ser jogador de futebol. O destino foi o Corinthians, equipe pela qual começou a torcer de verdade em 1977, ano em que o time venceu o Campeonato Paulista, quebrando o famoso jejum de 23 anos sem títulos. "Minha família foi toda para a Paulista. Lá nós festejamos muito", recordou, ressaltando que, dali para frente, começou a freqüentar assiduamente as arquibancadas.

Em 1990, quando o ataque do Alvinegro atravessava uma fase complicada, com sete jogos sem fazer gols, o técnico da equipe principal, Nelsinho Batista, viu Dinei treinando no time de juniores e o convidou para integrar o elenco de profissionais.

A chance apareceu no dia 4 de novembro, em um clássico contra o Santos, válido pelo Campeonato Brasileiro. Dinei entrou no jogo e marcou seu primeiro gol no Pacaembu. "O Paulo Sérgio (ex-atacante corintiano, hoje no futebol alemão) disse que eu corri mais na comemoração do que em todo o jogo", divertiu-se.

Marketing - Mesmo curtos, os cabelos continuaram a ter uma importância especial na carreira de Dinei. Certa vez, ele foi assistir ao show de Lulu Santos, na época em que o cantor exibia-se com o cabelo oxigenado. O visual chamou a atenção do jogador, que decidiu adotá-lo, embora garanta que ficou com receio das reações da imprensa. "No começo o povo me chamou de um monte de coisas, mas depois acostumou", relatou. Era a descoberta do marketing pessoal.

Dinei queria apenas destacar-se entre os demais jogadores. Então, com o tempo, introduziu à sua imagem as chuteiras brancas, os brincos, as tatuagens e o número 18.

"Eu sei que não sou um craque. Me considero apenas um bom jogador. Como sou negrão e todos os negrões são iguais de longe, resolvi que deveria achar um diferencial", explicou. "Então compenso uma certa deficiência técnica com muito carisma." Mas como tudo tem dois lados, Dinei pagou um preço alto pelo exposição. Envolvido pelas más companhias, acabou conhecendo o mundo das drogas e viu sua carreira quase acabar prematuramente quando teve a presença de cocaína detectada em exame antidoping. "Esse foi o lado ruim dessa história de marketing."

Palmeiras - Respeito. É com essa palavra que Dinei resume seu sentimento em relação ao mais tradicional adversário corintiano.

Embora faça questão de destacar a todo momento que o Palmeiras é uma potência do futebol, um grande clube, ele assegura que em hipótese alguma vestiria a camisa verde.

Sua justificativa é a consideração que tem pelo Corinthians. Ele acha que não pegaria bem para sua imagem defender o "Palestra" e isso poderia soar como uma ofensa à torcida corintiana.

Com a torcida alviverde ele também já vivenciou algumas histórias, infelizmente sempre não muito agradáveis de serem relembradas. Em uma delas, ele teve de sair correndo quando um grupo de torcedores rivais tentou alcançá-lo e agredi-lo. "Não lembro que jogo foi, só sei que tive de sair correndo e pegar meu carro para evitar que algo pior acontecesse."

Técnicos - Em seus 10 anos de carreira, Dinei atuou sob o comando de diversos treinadores. No entanto, um deles despertou mais carinho e admiração do jogador: Oswaldo de Oliveira. Além de grande caráter e profissional, ele é considerado pelo atleta como um dos maiores injustiçados no Corinthians. "Com todo o respeito pelo Candinho, pelo Vadão e por qualquer outro, mas ninguém conquistou tantos títulos aqui como o Oswaldo", disse. "No entanto, só agora que ele não está mais aqui é que estão valorizando o trabalho realizado."

Se Oliveira é apontado como o mais tranqüilo, Wanderley Luxemburgo é descrito como o mais temperamental. Dinei ilustra sua opinião remetendo-se a 1998, uma partida em Campinas, quando o Corinthians vencia a Ponte Preta por 5 a 1. Ele estava no banco ao lado de Didi e pronto para entrar e fazer a festa na defesa adversária. "Acontece que, assim que fomos para o jogo, os caras fizeram três gols em dez minutos. Sei que se o jogo durasse mais cinco eles viravam o placar", recordou. No final, Luxemburgo entrou no vestiário chutando tudo o que encontrava pela frente. "Ele virou para mim e falou duas coisas: a primeira, que olhasse sempre para ele quando estivesse falando e a segunda, que jamais me escalaria novamente."

Família - Dinei reage de maneiras distintas quando o assunto é família. Com a mesma facilidade que se alegra ao falar de seus três filhos - Bruno (8 anos), Amanda (7) e Andressa (5) -, que sempre cobram beijos do pai a cada vez que este aparece na televisão, cerra o semblante ao tentar evitar qualquer comentário sobre o pai, o ex-jogador Nei, atacante do mesmo Corinthians na década de 60.

A justificativa é de que os dois, em comum acordo, resolveram que não iriam misturar as coisas para que Dinei não passasse a ser tachado como "o filho de alguém". "Basta ver o que aconteceu com um filho do Rivelino que veio jogar aqui. Não paravam de dizer que ele só tinha conseguido a oportunidade porque era filho de um ex-jogador famoso no clube", explicou.

Futuro - Embora se diga decepcionado com o futebol, Dinei pretende jogar por mais três ou quatro anos "para garantir o futuro dos filhos". Seguro de sua habilidade em conversar com crianças, ele manifestou o desejo de trabalhar com as categorias de base do Corinthians quando encerrar a carreira. Porém, só está certo de uma coisa até agora: vai trabalhar no Parque São Jorge. "Pode ser como técnico da garotada ou como apaziguador de torcida", diverte-se. O Estado de S.Paulo


Copyright© 1996 - 2000 TERRA. Todos os direitos reservados. All rights reserved.
Aviso Legal

 

 VEJA AINDA
Corinthians
Corinthians joga em Minas para escapar da lanterna
Santa Cruz quer deixar lanterna para o Corinthians
Candinho quer oito reforços para o Corinthians
Corinthians pode trocar Nujud por Angione
Veja lista completa
Copa JH - Módulo Azul
Investimento não é sinal de sucesso na JH
Lula ainda sonha em renovar com a Lusa
Paraná conquista o Módulo amarelo ao vencer São Caetano
Túlio volta a ser titular no Botafogo
Veja lista completa