São Paulo - Se o ex-técnico da Seleção Brasileira Wanderley Luxemburgo estiver na expectativa de comover os senadores com suas mágoas e depressões, é melhor mudar de idéia. Os integrantes da CPI do Futebol vão aguardá-lo quinta-feira, no Senado, com um recheado dossiê de denúncias.
E quase nenhuma delas vem das acusações feitas à CPI ou à Justiça pela sua ex-procuradora Renata Alves. São fatos que deixarão o técnico na delicada situação de dizer que não se lembra deles ou que foram feitos à sua revelia.
Um exemplo: por que foram feitos depósitos de cerca de R$ 400 mil em suas contas bancárias em dinheiro vivo? Por que a rapidez em abrir e fechar contas bancárias que, em média, permaneciam ativas por cerca de um mês? Por que operar em 25 contas bancárias, seis delas de poupança?
O relator da comissão, Geraldo Althoff (PFL-SC), disse que teve de resistir à pressão de colegas que queriam ouvir Luxemburgo logo na primeira semana de trabalho. O esforço, segundo ele, compensou e, agora, Althoff se declara em condições de conseguir um depoimento "bombástico" com o ex-técnico da Seleção.
Há a favor da CPI o episódio recente de outro depoente, o então senador Luiz Estevão (PMDB-DF). Estevão garantiu à comissão que investigava irregularidades no Judiciário que ele e sua família estavam sendo vítimas da imprensa e de seus inimigos, o que não impediu que ele fosse cassado.
A lista de 37 bens arrematados em leilões por Renata em nome de Luxemburgo também deixará o ex-técnico da Seleção numa situação desconfortável. São cinco apartamentos em locais nobres, uma casa, cinco caminhões Mercedes-Benz, um ônibus, seis automóveis, um trator, 16 lotes de terrenos, 16 linhas telefônicas e diversos outros itens, como máquina de preencher cheques, um jet sky, batedeira elétrica, embaçadeira de cana, uma betoneira, três máquinas de escrever, um microcomputador, uma máquina copiadora, 400 quilos de cimento e seis aparelhos de ar-condicionado.
Ajuda do MP Os senadores dispõem ainda da denúncia formulada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, que acusa Wanderley Luxemburgo de sonegar e omitir rendimentos "de origem não comprovada, provenientes de depósitos ou créditos em suas contas correntes".
Os procuradores informaram aos senadores, entre outras coisas, que na conta bancária do Bradesco de Luxemburgo foram constatados depósitos de R$ 420 mil, R$ 400 mil e R$ 300 mil, "importâncias de origens desconhecidas e não informadas pelo denunciado ao fisco em sua declaração anual de renda de1997".
O fato de ter prestado contas à Receita Federal não ajudará Luxemburgo na comissão. Os senadores vão querer saber de onde veio o dinheiro. É indiferentes ao fato de ele dizer ou não a verdade. O poder de quebrar sigilos bancário, fiscal e telefônico - inclusive de pessoas e empresas com as quais Luxemburgo tenha negociado - permite à CPI ir atrás das informações.
Agenda - Além de Luxemburgo, na CPI do Senado, vão depor quinta-feira, na CPI da Nike, na Câmara dos Deputados, o presidente do Clube dos 13, Fábio Koff, e o ex-supervisor da Seleção Brasileira Américo Farias. Estão marcados para amanhã os depoimentos do presidente e do ex-presidente do Moto Clube, do Maranhão, Jurandir de Castro e Antonio Cassas de Limas, e os jornalistas Jaeci Carvalho e Leandro Quesada. Todos serão ouvidos sobre o tráfico de jogadores menores de idade para o exterior.