São Paulo - A Polícia Federal vai enviar à CPI do Futebol o inquérito com as investigações sobre o crime de contrabando que o jogador Ronaldo teria cometido ao fazer compras no Paraguai, durante a Copa América de 1999.
Embora o assunto não esteja ligado à CPI, a PF espera que os deputados ajudem na devassa nos cartões de crédito do atacante, cujo sigilo foi quebrado pela Justiça Federal.
O delegado Jessé Ferry, que conduz o inquérito, recorreu a 31 administradoras de cartões de crédito para identificar em quais o jogador é cliente e obter os extratos de junho e julho de 1999, época das compras. Um terço delas se manifestou, mas os resultados são protegidos pelo segredo de Justiça. Os deputados da comissão, porém, terão acesso às informações.
Ronaldo aproveitou uma folga da seleção para fazer compras em Ciudad del Este, na fronteira com Foz do Iguaçu (PR). O craque teria gasto na loja Monalisa US$ 28 mil em dois relógios Mont Blanc, um Cartier, uma caneta Mont Blanc e um jogo de malas, sem recolher impostos à Receita Federal. O jogador voltou a Foz, onde a seleção estava hospedada, num helicóptero do dono da loja, Chariff Hammoud.
Ferry aponta contradições nos dois depoimentos de Ronaldo, prestados no Rio, por meio de carta precatória. No primeiro, dia 3 de julho, admite ter comprado na loja Monalisa US$ 150 em mercadorias - cota que dispensa declaração. No segundo, disse que não se lembra de ter feito compras e nem o nome da loja que visitou.
O delegado também encontrou divergências ao confrontar as declarações do jogador com as de Hammoud, que foi denunciado por falso testemunho. Ao contrário do que disse o jogador no primeiro depoimento, ele garantiu que houve devolução das mercadorias e até mostrou notas fiscais para comprovar isso. A dúvida da PF é a contradição entre os depoimentos.
Ronaldo só será indiciado se a PF comprovar crime de descaminho e o MP apresentar denúncia. Seria enquadrado no artigo 334 do Código Penal (pena de reclusão de um a quatro anos). Hammoud poderá ser incluído no artigo 342 (de um a três anos e multa). As sanções contra ele podem ser abolidas se houver retratação antes da sentença.
Ronaldo e Roberto Carlos deve depor na CPI da Nike no início de janeiro.