Rio - O atacante brasileiro Ronaldo, da Internazionale de Milão, prestará depoimento nesta quarta-feira à CPI da Câmara dos Deputados que investiga as relações da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) com a multinacional Nike.
O presidente da CPI, deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), disse que Ronaldo foi convidado a fornecer detalhes sobre o caso -que para os brasileiros continua sendo um mistério- de sua participação na final da Copa do Mundo de 1998 na França, pela seleção brasileira.
Segundo o parlamentar, ainda restam muitas dúvidas sobre as condições reais do jogador de participar naquela final -em que o Brasil perdeu para a França por 3 a 0-, já que havia sofrido uma convulsão poucas horas antes no hotel onde a seleção estava concentrada.
Rebelo disse que Ronaldo deverá ajudar os deputados a esclarecer várias outras dúvidas sobre as relações entre a CBF e Nike. "Além disso, o próprio jogador possui um contrato vitalício com a empresa", lembrou o deputado.
Pela CPI, que deseja esclarecer se o contrato com a Nike acaba com a independência do futebol brasileiro, já passaram o treinador Zagallo, o ex-presidente da Fifa João Havelange, médicos da seleção e jogadores, como Edmundo.
Entretanto, a presença de Ronaldo, o principal atacante da seleção no Mundial da França 98, pode ser chave para provar a ingerência da Nike na seleção, segundo os deputados.
O polêmico contrato com a Nike foi firmado em 1997, tem um prazo de dez anos e um valor de US$ 160 milhões.
Por este contrato, a empresa norte-americana possui direitos exclusivos sobre todos os produtos de promoção, assim como da imagem dos equipamentos. Além disso, a Nike pode organizar 50 partidas amistosas ou de exibição internacionais, com um mínimo de três por ano, nas quais deverão atuar pelo menos oito jogadores da equipe titular.
A CPI também quer investigar a venda de jogadores brasileiros a equipes estrangeiras e a falsificação de passaportes para os futebolistas menores de idade que foram para o exterior.
Outros deputados também têm dúvidas em relação ao episódio envolvendo a Nike, Ronaldo e a seleção brasileira.
"Contando todos os depoimentos tomados até o momento, cerca de noventa e nove por cento deles deixam bem claro que o Ronaldo não tinha condições de entrar em campo", disse o deputado Silvio Torres (PSDB-SP).
Para o deputado José Rocha (PFL-BA), que também é médico, a CPI errou em não ter solicitado os exames feitos por Ronaldo na clínica Lilas, em Paris, para onde ele foi levado depois da crise de convulsão.
Outra dúvida que os deputados esperam esclarecer com o depoimento de Ronaldo é sobre o momento em que Zagallo foi informado do problema com o jogador. Na CPI, em novembro do ano passado, o treinador disse que só foi avisado do assunto mais de uma hora depois da crise de convulsão. Mas o então médico da Seleção Lídio Toledo e o atacante Edmundo, durante seus depoimentos, disseram que Zagallo soube do assunto cerca de 15 minutos depois.
Também é possível que algum deputado solicite ao jogador cópia de seu contrato com a Nike e pergunte se ele tem conhecimento sobre o contrato de parceria entre a empresa de material esportivo e a CBF.
O deputado Eduardo Campos (PSB-PE) também vai perguntar a Ronaldo sobre as informações que ele tem a respeito de adolescentes brasileiros atuando na Europa. Em dezembro, Campos esteve na Bélgica e viu vários menores brasileiros abandonados e passando por necessidades. Esses meninos foram levados para a Europa com a promessa de serem negociados para grandes clubes.