Rio - O anúncio do acerto de Ronaldinho com o Paris Saint-Germain, nesta semana, reacendeu a discussão: a partir do dia 26 de março, quando entrará em vigor a nova lei do passe no país, dando a todo jogador de futebol profissional o passe livre, os clubes brasileiros ficarão ameaçados de perder seus craques para poderosos concorrentes europeus?
Bastará a um clube milionário chegar com uma oferta interessante ao craque para levá-lo embora sem prêmio algum ao clube brasileiro que o formou?
Em um primeiro momento, até que uma definição mais clara sobre o polêmico tema ocorra, os clubes se sentem ameaçados. No Rio Grande do Sul, o Grêmio entende que pouco adiantará fazer um contrato de longo prazo com uma de suas promessas, o meia Bruno, de 16 anos, da seleção brasileira da categoria, para tentar mantê-lo, já que, quando se profissionalizar, daqui a três anos, terá passe livre. No Internacional, jogadores jovens, mas já com contratos de profissionais, como Fábio Rochemback e Leandro Guerreiro, tiveram suas renovações antecipadas por quatro e cinco anos como garantia. Mas os gêmeos Diego e Diogo, 15 anos, também craques de seleção, ainda sem contratos profissionais, poderão deixar o Beira-Rio logo caso não ocorra um acerto com o clube.
Até agora, o Grêmio não tomou nenhuma medida para manter no estádio Olímpico o meia Bruno Ferraz das Neves, já apontado por alguns observadores de jogos dos times de base como o novo Ronaldinho.
Com 16 anos e titular absoluto da seleção brasileira sub-17, Bruno Ferraz das Neves parece ser uma presa cada vez mais fácil para os grandes clubes europeus, ainda mais depois do precedente aberto com o caso Ronaldinho.
Nos dois últimos anos, Arsenal, da Inglaterra, e Milan, da Itália, tentaram contratá-lo.
Ou seja, o Grêmio não obterá qualquer ressarcimento pelo jogador em caso de transferência para o Exterior. Bruno quase deixou o clube há dois anos. O agente Steve Rowley, do Arsenal, da Inglaterra, procurou a família oferecendo US$ 1 milhão por sua liberação.
Até agora, Joaquim não guarda boas recordações da conversa que teve com a diretoria do Grêmio, quando pediu uma casa em troca da permanência de Bruno. Saiu de mãos vazias e, temeroso de perder o emprego no departamento de contabilidade do clube, preferiu não levar adiante a discussão.
Desde então, a família tem sido orientada pelo empresário Gilmar Veloz a aguardar com calma qualquer manifestação dos dirigentes. Tudo o que desejam é um salário que possibilite a Bruno continuar ajudando no sustento da casa e pagar seus próprios estudos. Atualmente, o jogador só recebe uma ajuda de custo, cujo valor é considerado muito baixo.
"Não queremos ficar ricos de uma hora para outra com o garoto. Só entendemos que ele precisa ser valorizado", diz Joaquim, garantindo que o Grêmio será o primeiro a saber quando surgir nova proposta.
Foi o próprio Gilmar Veloz quem falou em nome de Joaquim quando Ariedo Braida, representando o Milan, fez uma oferta por Bruno.
"Ainda não era o momento de sair, pois a permanência em um clube do porte do Grêmio representaria uma valorização ainda maior para o jogador", afirma.
O presidente José Alberto Guerreiro não vê possibilidade de conter o assédio europeu. No caso de Bruno, segundo o dirigente, não haveria grande compensação em propor um salário de profissional.
"De que adianta assinar contrato para atuar mais dois anos como amador? Com a extinção do vínculo, poderá ser levado quando for profissionalizado."
Para se proteger da Lei Pelé, o Inter vai tentar renovar os contratos de todos os atletas do grupo principal até 26 de março, data em que a lei entra oficialmente em vigor, extinguindo o passe.
O departamento jurídico do clube considera garantida a situação dos jogadores com contratos recentemente renovados, como Leandro Guerreiro e o disputado Fábio Rochemback, mas ainda não descobriu como vai lidar com os casos de jogadores ainda nas categorias de base, como os gêmeos-revelação Diego e Diogo.
De acordo com o vice-presidente jurídico do Inter, Sérgio Juchem, desde o fim de 2000 o clube está pondo em prática a estratégia de acelerar as renovações dos atletas cujos casos poderiam ser enquadrados na Lei Pelé.
Em dezembro, o Inter assinou contratos de quatro anos com Fábio Rochemback e de cinco anos com Leandro Guerreiro. Por terem sido elaborados antes da lei entrar em vigor, o Inter entende que esses contratos precisam ser cumpridos até o fim sob o regime da antiga lei, ou seja, com um passe sob controle do clube. O Inter também encaminha negociações com o goleiro João Gabriel e com o meia Diogo Rincón.
O entendimento do Inter é que não há possibilidade de se repetir com o Rochemback o episódio de Ronaldinho.
"O Fábio Rochemback só poderá assinar um pré-contrato com algum clube seis meses antes do vencimento do seu compromisso com o Inter. Isso só ocorrerá daqui a três anos e meio. Até lá, o passe do jogador é do Inter, porque a lei não retroage", diz Juchem.
Em todo o caso, para se prevenir de possíveis surpresas desagradáveis, o Inter incluiu no contrato do jogador uma cláusula de indenização em caso de transferência antes do fim do mesmo. A multa aumenta com a progressão do contrato: R$ 15 milhões para o primeiro ano, R$ 20 milhões para o segundo, R$ 25 milhões para o terceiro e R$ 30 milhões para o quarto.
Já com as categorias de base, setor na qualificação do qual o clube tem investido nos últimos anos, a questão é mais complexa. O pai e representante dos gêmeos Diego e Diogo, campeões mundiais interclube sub-15, o ex-jogador João Carlos, entende que, quando os meninos fizerem 16 anos em abril, estarão cobertos pela lei e poderão negociar com qualquer clube.
"Temos propostas já de outras fontes e estamos aguardando uma manifestação do Inter. Eles não têm vontade de deixar Porto Alegre, mas vamos esperar uma proposta do Inter para decidir qualquer coisa", diz o ex-lateral-direito.