Brasília - A substância benzoilecgonina, detectada na urina do jogador Júnior Baiano, do Vasco, pelo exame antidoping realizado antes da final contra o São Caetano da Copa João Havelange, pode ter sido resultado da ingestão de bebidas energéticas e não do consumo de cocaína. O alerta é feito por Otávio Brasil, um dos maiores toxicologistas do país, que começou a estudar os usuários de bebidas energéticas, vendidas livremente e muito consumidas em boates, no ano passado.
Segundo o médico, que chefia o Centro de Atendimento Toxicológico de Brasília, essa substância é um alcalóide encontrado na família das erithroxilacias, a mesma da árvore da coca.
O toxicologista afirma que não está questionando o exame realizado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), mas advertindo que a benzoilecgonina não é encontrada exclusivamente na cocaína, como disse o presidente da Comissão Nacional de Controle de Dopagem da CBF, Tanus Jorge Nagem, quando anunciou o doping do jogador vascaíno. "É justo que se faça uma avaliação melhor antes de condenar um jogador, que até já participou de campanha antidroga", defende Otávio Brazil.
O julgamento de Júnior Baiano está marcado para hoje, às 18h, na 3ª Comissão Disciplinar do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), no Rio. O atleta cumpre suspensão preventiva de 29 dias. Se for condenado, a pena pode variar de 120 a 360 dias.
Aposentado do Departamento de Polícia Federal do Instituto Médico Legal de Brasília, Otávio Brasil registrou, em 2000, vários casos de jovens que haviam consumido bebidas energéticas e foram parar no Centro de Atendimento Toxicológico, alguns em estado de pré-coma. O maior número de casos ocorreu no período do carnaval, quando as pessoas fazem uso dessas substâncias para aguentar o pique da folia, na maioria das vezes aliadas ao álcool.
O toxicologista informou que a benzoilecgonina atua no sistema nervoso central, tirando o cansaço, e é tido como estimulante energético e afrodisíaco. "São drogas de ação psicotrópica e o álcool potencializa seus efeitos. Causam um distúrbio muito grande no sistema nervoso central e podem ou não deixar seqüelas", alertou o médico.