Rio - O ex-presidente do Vasco
Antônio Soares Calçada prestou depoimento na tarde
desta terça-feira na CPI do Senado, que investiga
supostas irregularidades no futebol brasileiro. O
dirigente negou que tenha cometido crimes de sonegação
fiscal e lavagem de dinheiro na sua gestão à frente do
clube carioca. Calçada lembrou que é sócio do Vasco
desde 1942 e conselheiro desde 1948. Ele afirmou que
o único processo criminal que sofreu está em curso e
se refere ao desabamento de parte do alambrado do
Estádio São Januário, na final da Copa João Havelange.
Qustionado por que se negou a revelar dados do seu
sigilo bancário, como foi pedido pela CPI, Calçada
explicou que nada tem a temer e que seu sigilo
bancário e fiscal foi quebrado há três anos. Ele
colocou estes dados à disposição dos senadores.
Calçada contou que foi presidente do Vasco por 18 anos
e que todas as suas contas sempre foram aprovadas pelo
Conselho Deliberativo do clube. O dirigente disse que
denúncias de desonestidade contra ele fazem parte de
questões políticas do clube e desmandos
administrativos feitos, entre outros, pelo
ex-presidente Agathyrno da Silva Gomes.
Calçada negou
também que tenha emitido cheques sem fundo, deixado de
pagar promissórias, ou misturado suas atividades
empresariais com a administração do clube.
Calçada negou que Hércules Santana, ex-conselheiro do
clube, tenha sido afastado do Conselho Deliberativo
por ter colaborado com os trabalhos da CPI. Neste
ponto, o relator da CPI, senador Geraldo Althoff
(PFL-SC), leu documento assinado pelo presidente do
Vasco, deputado Eurico Miranda (PPB-RJ), afastando
Hércules por ele ter violado o estatuto do clube.
Calçada disse que a punição foi imposta ao sócio do
clube e não ao conselheiro.
Geraldo Althoff apresentou um documento assinado por
Eurico Miranda, na época ocupando o cargo de
vice-presidente de futebol do clube, pedindo a empresa
Vasco da Gama Licenciamentos que fizesse um depósito,
em nome do próprio Eurico, no valor de R$ 3,5 milhões,
no Liberal Bank, nas Bahamas. Calçada disse
desconhecer qualquer informação sobre o assunto e
assegurou que o clube não possui conta bancária no
exterior. Calçada explicou ainda que Eurico, junto com
o departamento jurídico do clube, era o responsável
pela negociação do contrato com a Vasco da Gama
Licenciamentos.
Calçada disse que o contrato com a Vasco da Gama
Licenciamentos realmente pode ter sido apresentado aos
conselheiros um ano depois de assinado, mas que foi
logo mostrado ao presidente do Conselho Deliberativo e
Benemérito e aos integrantes da diretoria.
Calçada procurou fugir das respostas sobre Eurico.
Ele disse desconhecer a origem da fortuna do atual
presidente do Vasco. Calçada disse que nunca entrou na
casa de Eurico em Angra dos Reis ou andou na sua
lancha Twister. Calçada disse que o seu grau de
amizade com Eurico não é tão grande. Calçada falou que
Eurico, durante sua gestão, só tinha poderes
presidenciais na sua ausência do clube.
Sobre a venda do atacante Bebeto para o Deportivo La
Coruña, Calçada disse que o jogador foi negociado por
US$ 2,5 milhões (aproximadamente R$ 4,8 milhões),
sendo que metade do dinheiro ficou com o clube, parte
com Bebeto e parte com o empresário José Moraes, na
época procurador do atacante.
O ex-presidente do Vasco explicou também que rompeu o
contrato do clube com o Bank of America porque o
parceiro não pagou ao clube o valor de US$ 8 milhões
(aproximadamente R$ 15,2 milhões) estipulado no
contrato. Calçada disse que o contrato com o banco era
conveniente ao clube, que tinha previsão de receber
US$ 2 milhões (aproximadamente R$ 3,8 milhões)
mensais, além de uma parcela inicial de US$ 20 milhões
(aproximadamente R$ 38 milhões).