Belo Horizonte - A paciência com o volante Claudinei no América parece ter chegado ao fim. O jogador não aparece no clube desde segunda-feira, após a derrota de 1 a 0 para o Ipatinga, não dá qualquer satisfação e não é encontrado nos números de telefone de que a diretoria dispõe. “A situação chegou ao limite. Ele será multado em 30% de seu salário e, dependendo da conversa que terei com ele, pode até ter o contrato suspenso", anuncia o diretor de Futebol, Ângelo Pimentel.
Ausências e atrasos aos treinos têm sido uma constante de Claudinei nesta temporada. Geralmente, o volante alega que teve tonteiras, desmaios e passou mal. O Departamento Médico já submeteu o jogador a uma série de exames neurológicos, no Hospital Vera Cruz, como eletroencefalograma, ressonância magnética, exame de fundo de olho e de enzimas, que nada apontaram.
“Ele pode ter uma disritmia cerebral, mas não identificamos qualquer patologia clínica", explica o médico Cimar Eustáquio. “Não temos como afirmar se ele tem ou não, e isso deixa o Departamento Médico do clube em uma situação difícil." Até o momento, nenhum médico do América presenciou uma crise do jogador.
No primeiro jogo oficial deste ano, em Florianópolis, contra o Figueirense, pela Copa Sul-Minas, Claudinei passou mal no hotel e o médico Afonso Rangel foi chamado. Quando chegou ao quarto, o jogador já estava lúcido. Outro quadro semelhante aconteceu antes das partidas contra Goiânia e Mamoré, mas em sua residência. Os problemas do volante este ano começaram ainda na pré-temporada, em Viçosa, quando entregou fotos em que aparece nu a duas adolescentes. Claudinei responde a processo por isso.
Mesmo sem um diagnóstico preciso, foi receitada ao jogador uma medicação leve, até mesmo para um efeito psicológico. O médico Cimar Eustáquio reclama que Claudinei não trata do assunto abertamente. “Ele não nos responde olhando nos olhos. Sempre abaixa a cabeça e diminui a voz. E, ao sair, faz tudo diferente do que foi conversado", conta Cimar Eustáquio. “Chegou o momento de a diretoria e o Departamento Médico tomarem uma posição definitiva sobre Claudinei."
Além desse problema médico, Claudinei, de 22 anos, enfrenta outro, de estrutura familiar. “Ele precisa ser ajudado, mas parece que não quer", comenta Ângelo Pimentel. “Agora, não corro mais atrás. Se ainda fosse um menino, uma criança...", afirma o dirigente, explicando porque não procura o jogador em sua residência.
A psicóloga do América, Elaine Cambraia, reconhece que tem limitações em seu trabalho. “O que podemos fazer por ele é limitado. Não há um acompanhamento em tempo integral. O que fazemos aqui são testes para dar aos jogadores subsídios para resolver seus problemas. O mais indicado para Claudinei é uma assistente social e um psiquiatra", diz.
O técnico Lula Pereira se limita a afirmar que o caso está entregue à diretoria e não fala nem sobre a possibilidade ou não da escalação de Claudinei contra a Caldense, domingo, em Poços de Caldas. Os companheiros de equipe, muitos que o acompanham desde as divisões básicas, têm conhecimento dos problemas do jogador. “Tentamos ajudar ao máximo, mas deixamos o assunto com a diretoria", define o zagueiro Wellington Paulo.