Belo Horizonte - O relator da CPI do Futebol, senador Geraldo Althoff (PFL-SC), divulgou na quarta-feira alguns números que, segundo ele, apontam para uma “sonegação grotesca" da Federação Mineira de Futebol (FMF). A CPI havia pedido à federação cópia do balanço financeiro da entidade e ouviu na quarta o presidente da FMF, Elmer Guilherme que, a exemplo da véspera, quando foi ouvido por deputados da CPI da CBF/Nike, se complicou ao não conseguir explicar movimentações financeiras da federação.
De acordo com Althoff, a comparação dos documentos apresentados pela FMF com os que estão na Receita Federal, foram comprovadas algumas distorções.
O ativo circulante (todo o dinheiro que entrou no caixa) da FMF em 97, segundo os dados enviados à CPI, é de R$ 786 mil. Para a Receita Federal, o valor é de R$ 567 mil. Em 99, esse número ficou em R$ 1,3 milhão para a Receita e R$ 1,5 milhão para a CPI. No item ativo permanente (tudo que a federação possui em bens imóveis), aparece a maior distorção: em 99, ele ficou em R$ 945 mil para a Receita e R$ 3 milhões para a CPI.
As contas da FMF também informaram à Receita que o patrimônio líquido da Federação estava negativo em R$ 2,6 milhões em 99. Para a CPI, no entanto, esse número foi menor, negativo em R$ 1,1 milhão. Também há uma distorção no passivo total (todas as dívidas da federação). Segundo os números da receita, o passivo em 99 era de R$ 2,3 milhões. Para a CPI, esse débito era de R$ 4,6 milhões. Esse número também tem grande diferença no ano de 97: R$ 2,9 milhões para a Receita, R$ 1 milhão para a CPI.
Elmer Guilherme justificou como “prejuízo de caixa" o empréstimo no valor de R$ 1,5 milhão junto à Federação Paulista de Futebol em 1998. Segundo ele, do total desse débito, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) já quitou R$ 500 mil e o restante será pago pela CBF à Federação Paulista, do total de repasse que terá de fazer à Federação Mineira.
A CPI também estranhou uma transação envolvendo um imóvel rural, no município de Barra do Garça (MT), que teria custado à FMF, em 30 de novembro de 1998, R$ 400 mil, e que no dia seguinte foi avaliada pelo Incra em R$ 2,4 mil. Acredita-se que Ferreira usaria o valor do imóvel - superavaliado - para quitar débitos da federação com o INSS.
O senador Antero de Barros (PSDB-MT), indignado com o depoimento de Elmer Guilherme e com os números levantados pela Comissão, propôs ao presidente da FMF que renunciasse o cargo para o bem do futebol brasileiro. “Esse depoimento mostra que o futebol brasileiro realmente é muito forte para resistir a uma administração como esta", disse Antero de Barros.
Elmer Guilherme, no final do depoimento, parece ter entendido o recado do senador Antero de Barros. “Não vou tentar a reeleição no próximo pleito", garantiu ele. O problema é que as próximas eleições só vão acontecer em 2003.