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Zico diz que falta competência no Flamengo
Sexta-feira, 29 Junho de 2001, 23h07
Atualizada: Sexta-feira, 29 Junho de 2001, 23h09

Rio - O ídolo maior da torcida rubro-negra está preocupado com a atual situação no Flamengo. Nesta entrevista concedida no CFZ, no Recreio dos Bandeirantes, Zico critica a diretoria e diz que a marca do clube não é bem explorada.

Como você vê a atual situação do Flamengo?

Zico: É uma situação complicada, que pode estar sendo encoberta pela conquista de um tricampeonato. O Flamengo é uma responsabilidade muito grande, as pessoas precisam ter um compromisso muito grande com a entidade, por tudo o que o clube representa. É preciso cuidado com os atos realizados dentro do clube. As pessoas estão muito preocupadas com as coisas, porque elas são muito nebulosas. O Flamengo precisa ser transparente, sempre, em qualquer atividade do clube. As CPIs foram criadas justamente porque não está havendo transparência nas entidades, nos clubes.

Você tomou conhecimento dos dados relativos ao balanço de 2000. O Conselho Fiscal pediu rejeição das contas. O que você achou dos números apresentados?

Z: Aquilo assusta, e precisa ser esclarecido. São coisas comprovadas, com números, com fatos, com notas. É preciso que a direção comprove que o Conselho Fiscal está errado. Se não houver justificativa, não tem como aprovar. A não ser que as pessoas que votarem estejam comprometidas também, não é? As pessoas precisam aprender que o Flamengo é maior que nós todos. Importante é o Flamengo, não é só aquele momento. Mas infelizmente, o que está acontecendo na maioria dos clubes são os comprometimentos, os acordos para se eleger, e por isso estão na penúria.

Você, que tentou modernizar o futebol através de uma nova legislação, acha que isso ocorre por causa da forma que os clubes estão organizados?

Z:Lógico. Tem sido assim. Quem tem entrado, faz acordo para se manter no poder e não para mostrar serviço ao clube. É a velha máxima: uma coisa é servir ao clube, outra é se servir do clube. As pessoas estão se servindo dos clubes, para buscar outros cargos, projeção. E os clubes continuam endividados. Não é deles, eles não respondem por nada e empurram a dívida, a dívida é do outro que vem por aí. Duvido que eles fizessem isso nas empresas deles.

O Flamengo teve problemas financeiros em 1999, quando houve déficit, e em 2000, quando já estava em vigência a parceria com a ISL. O clube se modernizou com a parceria?

Z:O Flamengo contou vantagem. Na aprovação do distrato, um cara subiu na tribuna para dizer que tirou em 15 meses, 80% do que receberia em 15 anos. Isso foi o que o cara disse. Se uma empresa faz isso, tinha que falir mesmo. Ou então, têm outros interesses no meio. As entrevistas do presidente dizem que o Flamengo fez mudanças, através de estudos da Fundação Getúlio Vargas, e que modernizou-se, com pessoas recebendo grandes salários. É prioridade colocar essas pessoas ganhando esses altos salários, para poder dizer que é modernidade? O Flamengo não tem um centro de treinamento. Modernidade é ter um lugar para abrigar suas categorias de base. Modernidade é os profissionais não irem para o jornal e reclamar de salários atrasados. Não sou eu que estou falando, é o que eu vejo.

Como um clube como o Flamengo, capaz de gerar receitas, consegue ter tantos problemas? O clube precisava passar por isso?

Z:Claro que não. Isso é simplesmente má administração de recursos. As pessoas passam pelo Flamengo não para administrar os recursos ou tornar o clube rentável, passa lá para ganhar um título e viver em cima daquele título e ganhar projeção.

O Flamengo é uma máquina mal explorada?

Z:Muito mal explorada...Ela não é explorada. O Flamengo não tem recursos. O Flamengo fez contrato de imagem com os jogadores e não explora a imagem dos jogadores. Como é possível isso? Eu nunca vi isso! Estou há vinte anos nisso. Sempre fiz e fui lá fazer meu trabalho para as pessoas. Então não é contrato de imagem, é para ludibriar alguma coisa.

Falta criatividade?

Z:Falta competência. As pessoas querem ser maiores que o Flamengo, mas não vão conseguir. A única coisa da qual tenho medo é que, daqui há algum tempo, esse rombo cresça tanto, que as pessoas tentem convencer que a solução vai ser comprar o Flamengo. Vão chegar e querer transformar em empresa e aí pode ser que essas pessoas queiram até comprar o Flamengo, não é?

Os próprios credores? Os próprios dirigentes?

Z:Exatamente. É bom que todo mundo fique atento. Espero que não ocorra. O Flamengo é da nação, é da torcida, não é de ninguém. É do povo.

Os torcedores conversam muito com você, na rua, sobre o Flamengo?

Z:As pessoas me perguntam, me cobram, mas quero que entendam o meu projeto de vida hoje.

Cobram inclusive que você seja candidato à presidência?

Z:Quando a coisa fica ruim, dizem que o Zico tem que ser presidente; quando ganha, não falam nada. Não sou salvador de nada. Fiz a minha parte dentro do Flamengo, e bem feita, sem explorar um centavo do clube. Nunca utilizei o Flamengo para nada. A marca do Flamengo são os grandes nomes, os grandes ídolos. E eles criam problema com os grandes nomes e os grandes ídolos. Esses nomes teriam que ser carros-chefes de coisas boas para o clube. Mas eles são tão incompetentes, que eles fazem com que as pessoas se afastem do clube.

O presidente Edmundo tentou se reaproximar de você? ( houve um estremecimento no início do ano, quando o irmão de Zico, Tonico, saiu da diretoria).

Z:Não, nem eu quero. Não tenho nada contra ele, mas quando a gente perde a confiança nas pessoas, leva tempo para se recuperar. Não sou inimigo de ninguém, não sou oposição, não sou nada. Não quero cargo no Flamengo, não sou candidato a nada, que isso fique bem claro. E as críticas que eu faço não são de oposição. Até que me provem o contrário, perdi a confiança na pessoa. Que ele faça o trabalho dele, lá, que tenha sucesso. Aplaudo a conquista do tricampeonato, aplaudirei a conquista do Campeonato Brasileiro, se ela acontecer. Vou continuar torcendo. Sou Flamengo, acima de qualquer coisa. Quero o bem do Flamengo.

L! Sportpress


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