São Paulo - Prestes a completar 19 anos, Rubinho já fala como um goleiro crescido, maduro. Criado nas categorias de base do Corinthians e tratado desde os primeiros passos como a maior revelação da posição depois de Ronaldo, titular de 88 a 98, o paulistano Rubens Fernando Moedim garante personalidade suficiente para assumir a vaga aberta pelo amigo Maurício, dispensado no início da semana com mais oito jogadores.
Embora seja o terceiro goleiro do grupo concentrado em Extrema (MG), atrás dos mais experientes Gléguer, 24 anos, e Yamada, 21, Rubinho se inspira no exemplo do próprio Ronaldo para queimar etapas.
Nesta entrevista, critica companheiros da Seleção Sub-20, que fracassou no Mundial da categoria no mês passado e diz ter bagagem suficiente para segurar uma chance no time profissional. As palavras cortantes, a la Ronaldo, só se desmancham ao falar sobre o irmão mais velho, Zé Elias, um de seus maiores incentivadores, atualmente no futebol grego.
Dispensa de Maurício
"Fiquei bastante chateado. Quando Maurício chegou ao Corinthians, meu irmão jogava aqui e eles ficaram super amigos. Ele sempre vinha conversar comigo, dar uns conselhos e me incentivar. Infelizmente, é o futebol..."
Chance no profissional
"Estou muito à vontade. Sempre trabalhei com o intuito de ser aproveitado. Independentemente de ser novo, quando o cavalo passa a gente tem de subir e não descer mais. Com Ronaldo foi assim. Três goleiros estavam na frente dele, mas todo mundo se machucou. Ele entrou e não saiu mais. Às vezes, goleiro tem 26 anos e o pessoal fala que ainda tem que pegar experiência. Aí, quando chega aos 30, diz que está velho. Não concordo. Em times como o Corinthians, o Palmeiras e o São Paulo, que sempre têm bons goleiros nas categorias de base, o jeito é colocar para jogar e para pegar experiência".
Personalidade forte
"Para ser titular você tem que ter tranqüilidade e uma personalidade muito forte e feita para suportar a pressão. Você tem que passar segurança para os companheiros. Com uma ou duas boas defesas, o time olha para trás e diz: ‘Pode chutar que a bola não entra’. Se aparecer a chance, tem que estar preparado e não ter medo. Se ficar com medo aí é que você toma o gol mesmo".
Bagagem de Seleção
"Eu me sinto um privilegiado pela bagagem que tenho na minha idade. E isso vem muito da Seleção. Sempre fui titular da Sub-17 e da Sub-20. Se não fosse a Seleção Brasileira, eu não teria tamanha experiência".
Fracasso no Mundial
"Acho que houve excesso de auto-suficiência do time. O técnico (Carlos César) conversou com a gente antes do jogo contra Gana e disse que era para continuar do jeito que estava porque estava muito bom, todo mundo gostando, elogiando, a imprensa falava bem... Na Argentina, os jornais elogiavam mais nossa Seleção do que a deles. A cada vitória diziam que era mais um passo rumo ao título. Cada jogador recebe isso de uma maneira e alguns entraram auto-suficientes demais. Depois da derrota para Gana, chorei para caramba. Fiquei sem dormir, enquanto eu cheguei a ouvir um jogador dizer: ‘Ainda bem que eu já tinha assinado um pré-contratado’. Alguns passaram a noite rindo, brincando. Nem todos estavam se importando com aquilo. Brasil e Argentina ia ser uma grande final".
A relação com Zé Elias
"Ter um irmão que já foi ídolo do Corinthians sempre foi positivo para mim porque olhavam e falavam: ‘Vamos ver se ele é tão bom quanto o irmão’. Ele é meu amigo, pai e conselheiro de toda a hora. É, vamos dizer, um ídolo que eu tenho. Quando nasceu a minha sobrinha (Júlia, em 11/7/2001), me emocionei. Fazia tempo que eu não me emocionava tanto. Sou padrinho e ela é linda. Vai dar trabalho para o pai e para o tio".