Rio - A CPI do Senado, que investiga supostas irregularidades no futebol brasileiro, divulgou nota oficial nesta quarta-feira rebatendo as acusações feitas pelo advogado Luís Roberto Barroso, que representa a CBF, na véspera. Barroso questionou os trabalhos da CPI, dizendo que ela deixou chegar a imprensa informações sobre os sigilos bancário e fiscal do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, o que fere a legislação que fiscaliza os trabalhos de comissões no Congresso.
Na nota, assinada pelo senador Geraldo Althoff (PFL-SC), relator da Comissão, os senadores lembram que os dados divulgados pela imprensa constavam do relatório final da CPI da Câmara. Além disso, os senadores rebatem o argumento de que a CBF, como empresa privada, não pode ser investigada. Abaixo a íntegra da nota:
"A Comissão Parlamentar de Inquérito responsável por investigar irregularidades associadas ao Futebol vem a público repudiar as declarações feitas pelo advogado da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Sr. Luís Roberto Barroso, reafirmando que esta CPI tem sido pautada pela maior preocupação com a seriedade nas apurações, buscando fundamentar objetivamente os fatos que estão sendo apurados.
Inicialmente, a Comissão refuta o fato de que o Sr. Ricardo Teixeira teria o seu sigilo transferido para a CPI por tê-lo oferecido voluntariamente. O Advogado, por não ter acompanhado a Sessão de 13 de dezembro de 2000, não fala a verdade, visto que quando o Sr. Ricardo Teixeira ofereceu o seu sigilo em depoimento, este fato já não tinha relevância jurídica, pois a CPI já havia deliberado, por maioria absoluta de seus membros, pela transferência do mesmo para o Senado Federal. No que diz respeito à pretensa "quebra" de sigilo do Sr. Ricardo Teixeira, a CPI ressalta que o advogado parece não ter tido conhecimento do amplamente divulgado Relatório da Câmara dos Deputados, realizado pelo eminente Deputado Sílvio Torres, assim como parece desconhecer que a CBF está sendo investigada simultaneamente pelo Ministério Público Federal, Receita Federal e Banco Central.
Além do mais, é mister reconhecer que o balanço da CBF deve ser de domínio público. A CPI lamenta profundamente que o advogado pretenda que o Sr. Ricardo Teixeira não deva esclarecer as questões ao Senado Federal, visto, segundo alega, "se tratarem de informações divulgadas indevidamente".
Tal situação simplesmente poderá servir para agravar a posição do Sr. Ricardo Teixeira, demonstrando ainda mais a obscura gestão da CBF e de seu dirigente, assim como busca mostrar desprezo pela vontade do Senado Federal, expressa na criação da Comissão. Quanto à alegação de a CBF tratar-se de uma instituição privada, portanto fora da órbita de uma CPI, o advogado parece desconhecer que tal argumentação já foi feita no início dos trabalhos desta CPI, mas não contou com a aprovação do excelso Supremo Tribunal Federal. Ressalte-se que sonegação fiscal, evasão de divisas, "lavagem" de dinheiro são crimes afetos à área pública, portanto perfeitamente relacionados à órbita de investigação constitucional do Senado Federal.
Lembre-se também que esta Casa já realizou inclusive CPI dos Bancos, até mesmo investigando profundamente entidades privadas. Por último, cabe destacar que a sociedade brasileira não mais aceita comportamentos que escamoteiam os fatos, sendo que ninguém pode exercer um cargo público, seja de Senador ou de Presidente da CBF, se não estiver imbuído do total compromisso com a Moralidade e a Ética. Não se deve aceitar o silêncio, em face da gravidade das suspeitas que pairam sob a gestão da CBF, sob pena de a sociedade brasileira desacreditar definitivamente na gestão de nosso maior patrimônio cultural, qual seja: o futebol. Assim, os Senadores esperam que no dia 2 de outubro próximo, o Sr. Ricardo Teixeira compareça a esta Casa a fim de esclarecer amplamente todas as dúvidas que a sociedade brasileira tem quanto a sua gestão à frente do futebol brasileiro.
Brasília, 22 de agosto de 2001.
Senador GERALDO ALTHOFF"