Santa Cruz de la Sierra - Para o Brasil, o jogo de quarta-feira contra a Bolívia, pelas eliminatórias da Copa de 2002, é decisivo, e os jogadores, dirigentes e imprensa boliviana sabem muito bem disso. Muitos desconfiam que ``fatores extra-campo'' estão conspirando para uma vitória brasileira.
O assunto ocupa as primeiras páginas dos jornais locais, e pode parecer paranóia para alguém menos acostumado com o mundo do futebol, mas está sendo levado muito a sério no país, que em oitavo lugar nas eliminatórias sul-americanas, já está eliminado do próximo Mundial.
O buxixo começou com a indicação do árbitro venezuelano Luis Solórzano para a partida. Os bolivianos reclamam que o juiz já prejudicou a seleção na derrota por 5 x 1 para o Paraguai, e que por isso não é o melhor nome para dirigir o confronto.
O meio-campista Julio César Baldivieso, um dos cinco jogadores da seleção boliviana que atua no exterior, não fez questão de esconder o descontentamento. ``Tomara que não hajam pênaltis estranhos, cartões suspeitos e outras coisas extra-campo, mas estamos preparados para tudo'', disse ele a jornais de La Paz. ``No jogo contra o Paraguai, ele (Solórzano) nos deixou intranquilos''.
A entrevista do presidente da Fifa Joseph Blatter à Folha de São Paulo, publicada no domingo, também não ajudou a melhorar o clima antes da partida. ``Blatter garante que Brasil vai ao Mundial'', diz a manchete de segunda-feira do jornal El Nuevo Día, de Santa Cruz.
Apesar de Blatter não afirmar, em momento algum da entrevista, que o Brasil irá à Copa, o homem-forte da Fifa disse que, caso o Brasil se classifique, seguramente será cabeça-de-chave no sorteio que em dezembro vai definir os grupos do torneio do ano que vem na Coréia do Sul e Japão.
``Com isso, fica claro que a Fifa conta com o Brasil para ser a principal atração do Mundial. Além disso, (o Brasil) poderia ser uma forma de recuperar o dinheiro perdido com a rescisão do contrato de vários patrocinadores da Copa'', escreveu o El Nuevo Día.
A tentativa da CBF em adiar a partida por 24 horas também pareceu suspeita para o zagueiro Juan Manuel Peña. ``Existe algo no ar e não estou gostando'', disse ele ao jornal El Deber. ``Já nos prejudicaram anteriormente, temos que nos defender. Somos pequenos, mas temos que exigir respeito'', terminou o jogador.
Os jornais também notaram a diferença entre as duas seleções, e não apenas no quesito ``tradição'' -- a Bolívia disputou apenas três Copas do Mundo, enquanto o Brasil, por enquanto, exibe o título de único país que jogou todos os Mundiais.
A crise na seleção boliviana não é apenas técnica, mas também financeira. Alguns jogadores reclamaram que as roupas que os jogadores estão usando estão velhas e puídas. ``Veja isso'', disse o polêmico Baldieso, apontando para a camisa de treino. ``Não parecemos uma seleção nacional. Nós treinamos com essa camisa e também ficamos com ela no hotel, é uma vergonha''.
Até mesmo uma lata de atum virou motivo de polêmica. Baldivieso pediu a comida na concentração do time em La Paz, e ela foi vetada. Segundo a Federação Boliviana de Futebol (FBF), o motivo foi alimentar, já que os jogadores cumprem uma rigorosa dieta. Para Baldivieso, a razão é outra. ``A FBF não quer pagar por nada extra'', disse ele.
Enquanto isso, o Brasil vai à Bolívia com uma delegação de 48 pessoas. Além dos 23 jogadores e da comissão técnica, fazem parte da comitiva roupeiros, motoristas, seguranças e até mesmo uma cozinheira, o que espantou os econômicos bolivianos.