Rio de Janeiro - Um motor, um relógio e um binóculo foram os objetos que um bando de piratas obteve em troca da vida de Peter Blake, o "herói" neozelandês consagrado no mundo, como um dos melhores navegantes de todos os tempos.
"É irônico que a vida de um homem com tantas glórias possa reduzir-se a isso, a uns objetos materiais", disse nesta sexta Sérgio Conceição, chefe do departamento de Comunicações da Polícia Militar em Macapá, cidade amazônica brasileira em cujos arredores Blake foi assassinado na quarta-feira, durante um assalto a seu navio.
Conceição afirmou que os relógios Sea Master, avaliados em US$ 2 mil, fabricados pela Ômega, patrocinadora da expedição, assim como o motor de popa de 15 cavalos, foram recuperados numa operação policial realizada nesta madrugada pela polícia e que terminou com a prisão de sete suspeitos.
As autoridades conseguiram recuperar também as duas câmaras fotográficas, com lentes de 200 milímetros, pertencentes a outros dos oito membros da tripulação do veleiro "Seamaster", assim como um fuzil, uma pistola e um revólver usados no assalto pelos 'piratas de rio'.
"Falta ainda capturar o oitavo integrante do bando, que está com o binóculo de Blake", acrescentou o oficial.
O coronel Conceição afirmou que, dos sete detidos, quatro confessaram a participação no assalto, perpetrado pouco antes da meia-noite de quarta-feira, em "Fazendinha", um balneário no rio Amazonas distante 15 quilômetros de Macapá, capital do estado de Amapá (norte).
Os piratas, conhecidos na região como "ratos de rio", abordaram o veleiro de Blake, que estava ancorado a 500 metros do litoral, e perpetraram a ação usando máscaras e capacetes de motociclistas.
Blake, nascido em 1 de outubro de 1948, em Auckland, recebeu um tiro no peito quando reagiu ao assalto e dois de seus companheiros de expedição, Roger Austin e Arthur Geoffrey, sofreram ferimentos leves ao imitar a ação do capitão.
"Foi um acontecimento infeliz, absurdo, que afeta a imagem do país e de uma região pacífica como a nossa", argumentou a fonte policial.
O corpo do engenheiro mecânico, de 53 anos, permanece no Instituto Médico Legal de Macapá.
A expedição liderada por Blake partiu da Nova Zelândia em novembro de 2000, com oito tripulantes, e produzia desde então um documentário sobre vários paraísos ecológicos no mundo, que pensavam visitar durante uma expedição que iria durar aproximadamente outros quatro anos.
Os viajantes chegaram ao Brasil em outubro depois de passarem pelas Ilhas Campbell, Antípodas, Antártica e pela Terra do Fogo.
O recordista de regatas de volta ao mundo era casado, pai de dois filhos e havia deixado de lado sua atividade esportiva para dedicar-se totalmente a promover programas para ajudar a conscientizar a sociedade dos perigos da pesca sem controle e da contaminação dos mares.