Rio - Sem dinheiro, o Flamengo segue à cata de malabarismos para sobreviver. Na era das calculadoras (cada vez mais necessárias na Gávea), o equilíbrio rubro-negro ganhou outra ameaça: uma greve de funcionários e professores das escolinhas pode ser iniciada.
Eles estão com dois meses de salários atrasados (novembro e dezembro, além do 13º). Os atletas também sofrem com o calote. Há um mês, não recebem o montante referente à rescisão dos contratos. Piquete ou não, a ginástica artística não treinou na quarta-feira na sede do Flamengo. O ginásio esteve trancado o dia todo.
Hoje, representantes dos esportes olímpicos se reúnem com os vice-presidentes de finanças, administração e social. Na pauta, discutirão a autogestão de cada modalidade, seguindo determinação da presidência do clube. Até a próxima semana, a ginástica e a natação (dois dos esportes de maior visibilidade do Flamengo) fecharão contratos de patrocínio com empresas privadas. Pelo acordo, os dois esportes usarão, do jeito que quiserem, o dinheiro que virá dessas empresas. Montarão orçamentos próprios. Com isso, os ginastas e os nadadores voltarão a ganhar ajuda de custo.
São esses os dois primeiros exemplos do novo Flamengo. Em agosto passado, o presidente Edmundo Santos Silva cortou o pagamento de salários. Os contratos em vigor foram cancelados. Cada atleta que tinha compromisso com o rubro-negro foi chamado para renegociar a rescisão. O dinheiro seria pago em parcelas. Segundo Patrícia Amorim, vice-presidente de esportes olímpicos, o pagamento vinha sendo cumprido até dezembro. Desde então, diz Patrícia, o clube parou de pagar aos atletas pelo documento desfeito.
Crise - A novela sobre dinheiro na Gávea se arrasta há pelo menos um ano. Mesmo deixando de pagar ajuda de custo aos atletas dos esportes olímpicos, o Flamengo sucumbe à crise financeira. Os salários dos funcionários estão atrasados em dois meses.
Na quarta-feira, eles ameaçaram entrar em greve. Foram demovidos da idéia - ao menos, temporariamente - depois de ouvirem promessas da diretoria de que o dinheiro arrecado em premiações do futebol será usado para abater a dívida dos empregados.
Segundo os dirigentes, o Flamengo tem a receber, até o fim do mês, R$ 6,8 milhões em cotas de participação no Torneio Rio-São Paulo, na primeira fase da Copa Libertadores e na Mercosul.
Por enquanto, são apenas promessas. De concreto, nada existe. O que crescem no Flamengo são (ainda) boatos sobre paralisações. Na ginástica artística, que conta com a vice-campeã mundial Daniele Hypólito, o treino de quarta foi transferido da Gávea para uma academia e para o Aterro. A justificativa oficial seria ''uma mudança para espairecer os ginastas''. Entre atletas de outras modalidades ouvidos, o comentário era de que a ginástica estaria em greve. Não bastasse a falta de dinheiro, a ginástica artística padece com colchões rasgados e aparelhos defasados no ginásio. Sem previsão de reparos.
Saídas - Mesmo assim, o Flamengo produz talentos como Daniele Hypólito. Mas poderá perder alguns. Ano passado, teve início uma debandada de atletas da Gávea. Saíram nomes como Henrique Guimarães e Aurélio Miguel (judô), Leila e Virna (vôlei), Josuel e Pipoka (basquete). O próximo pode ser o pivô Janjão (basquete), que deve se transferir para a Espanha. Seria um desfalque considerável a menos de um mês na estréia no Campeonato Nacional.
O cenário no clube é de preocupação. ''Terça-feira, houve uma reunião com a diretoria. Sabemos que não há dinheiro, mas queremos pelo menos uma satisfação. Buscamos alternativas com parceiros. A ginástica, por causa da Daniele, e a natação, principalmente depois de ser campeã brasileira (no Troféu José Finkel, em dezembro), conseguiram apoio. Mas para o resto está difícil'', afirma Patrícia Amorim.