Rio - Os clubes filiados à Liga de Futebol do Nordeste, a primeira de futebol criada no país, em 2001, não querem perder o espaço conquistado com a realização do Campeonato do Nordeste e não admitem voltar a disputar os campeonatos estaduais nos moldes antigos.
A opinião dos presidentes dos clubes filiados à Liga retrata bem a importância para eles da manutenção do Campeonato do Nordeste. De acordo com todos, a administração profissional, o número de patrocinadores e o aumento da receita com cotas de televisão fizeram os campeonatos estaduais se transformarem em páginas viradas da história.
No último dia 8 de abril, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e os 27 presidentes das federações estaduais de futebol do Brasil decidiram modificar a Resolução de Diretoria (RDI) 13/01, na Assembléia Geral da entidade, realizada na Granja Comary, no Rio de Janeiro.
A modificação dessa Resolução retira o poder das ligas regionais, e da recém-criada Liga Nacional de Clubes de Futebol, de comandarem os destinos do futebol brasileiro, fazendo os clubes voltarem a ficar sob as ordens da CBF e das federações estaduais.
Além disso, acaba com o calendário quadrienal, lançado em junho de 2001 por uma Comissão composta, entre outros, por Ricardo Teixeira, o então ministro dos esportes, Carlos Melles, e Pelé.
“O Bahia é totalmente contra esse movimento. Tem que se respeitar o calendário quadrienal firmado no ano passado. A Liga do Nordeste é o futuro para o nosso futebol. Aliás, já é o presente, pois o Campeonato do Nordeste é o melhor regional do Brasil”, afirmou Paulo Maracajá, conselheiro do Bahia.
Para os integrantes da Liga do Nordeste, a organização é outro fator que fez o Campeonato do Nordeste se transformar em sucesso, com a tabela sendo rigorosamente respeitada durante toda a competição. E, com isso, de acordo com eles, a credibilidade dos patrocinadores foi conquistada.
“As empresas que patrocinam a competição acreditam na tabela, no planejamento. Eles sabem que não existe a chance de viradas de mesa. Com certeza essas empresas não vão querer negociar com as federações. O Campeonato do Nordeste está dando uma lição”, afirmou Eduardo Rocha, presidente do América-RN.
O diretor comercial da Liga do Nordeste e presidente do Vitória S/A, Paulo Carneiro, é enfático ao falar sobre a continuidade do campeonato em 2003. Ele vai além e deixa claro que jogar os estaduais está fora dos planos dos clubes que compõem a Liga.
”A Liga vai defender os seus direitos de organizar as competições. Em respeito aos seus parceiros comerciais, aos torcedores, que estão adorando o campeonato, e aos clubes filiados. Para a Liga do Nordeste, a reunião do dia 8 de abril não teve legitimidade nenhuma. A Liga desconhece qualquer decisão tomada nesse encontro feito em um lugar escondido. Até porque, uma Assembléia Geral tem que contar com a participação dos clubes da Primeira Divisão, que não foram chamados. Em 2003, vamos fazer valer um acordo assinado por todos os presidentes dos clubes filiados à Liga do Nordeste, que diz que nenhum clube vai participar de nenhum campeonato estadual, nem que seja de dez dias de duração”, disse Carneiro.
A maior prova da união dos clubes nordestinos em torno de sua Liga vem do Confiança-SE, que foi rebaixado neste ano e está fora da competição no ano que vem. O presidente Augusto França prefere ter a chance de voltar a disputar o torneio regional em 2004, do que ficar jogando os estaduais para sempre.
“É lamentável o que houve nessa reunião. É inadmissível que pessoas queiram retroceder no tempo. As Ligas são o que há de mais moderno e arrojado no futebol. Resumindo: a Liga do Nordeste é responsável pela sustentação do futebol na região. A CBF e as federações são as coisas mais arcaicas do mundo. Isso me cheira a regime militar, a ditadura, a Arena. Totalmente ultrapassado”, declarou Augusto Célio França Cruz, presidente do Confiança.