O futuro do local do World Trade Center
Segunda-feira, 11 de março de 2002
Guto Barra/Direto de Nova York
"Mas, e afinal, já decidiram o que vai ser construído no lugar do World Trade Center?" Esta é a pergunta mais ouvida pelos nova-iorquinos nas últimas semanas. A resposta é não. E a decisão ainda deve demorar mais um bom tempo. Para tentar definir o futuro da região do Ground Zero, que ainda deve ter a remoção dos destroços das torres gêmeas. O problema é o emaranhado político que está por trás do processo.
Para ter certeza de que a decisão sobre o que construir no local tem a representação de várias comunidades nova-iorquinas, o Municipal Arts Society está comandando o projeto Imagine New York, cujas atividades estão sendo divulgadas pelo web site https://www.imaginenewyork.org. Durante a semana do dia 11, workshops estarão sendo organizados nas mais variadas regiões da cidade, em escolas, igrejas e outros espaços comunitários, para discutir o assunto.
O público pode se inscrever para participar das reuniões e também para organizar os eventos. Até o dia 19, o Municipal Arts Society vai estar aceitando material com conclusões dos workshops - em forma de fotografias digitais e emails. A entidade está disponibilizando câmeras para grupos que não tenham meios de registrar seus projetos.
Em seguida, todas as informações obtidas serão catalogadas e temas recorrentes serão identificados. As conclusões mais relevantes serão discutidas nas semanas seguintes, em grandes reuniões oficiais, com participação de representantes de vários grupos, para uma "síntese final de idéias".
O Imagine New York vai servir para complementar o trabalho de inúmeros grupos que estão comandando suas próprias reuniões a respeito do futuro do World Trade Center. Um grupo de arquitetos e líderes comunitários, por exemplo, vem se reunindo religiosamente a cada duas semanas sob o nome de Rebuild Downtown Our Town. A fundação America Speaks, de caráter nacional, também vem organizando encontros periódicos de interessados para tentar criar conclusões sobre o assunto.
Também estão desenvolvendo estudos entidades como o Museum of the City of New York e o National Museum of the American Indian, a Columbia University e o Hunter College, várias associações de comerciantes e de moradores e inúmeros grupos formados por famílias de vítimas dos atentados terroristas.
O problema é que a questão não é tão democrática quanto parece. O governador George Pataki estabeleceu o Lower Manhattan Development Corporation, cheio de homens de sua confiança, mas que tem a participação de uma representante dos moradores da região, a ativista Madelyn Wils. A empresa vai cuidar oficialmente da reconstrução, mas também estão envolvidos no processo os donos do antigo complexo: a Metropolitan Transportation Authority e o megaempresário da construção civil Larry Silverman, que havia alugado o World Trade Center apenas seis semanas antes da tragédia.
Estas três frentes já estão discordando em vários pontos e o Lower Manhattan Development Corporation vem sendo criticado pelos oponentes políticos de Pataki (que concorre à reeleição em novembro) por não estar agindo com a velocidade suficiente para recuperar a região.
O consolo foi a chegada do arquiteto Alexander Gavin ao cargo de planejador-chefe do LMDC, que causou alívio nos vários lados. Ao assumir o cargo, há poucos dias, ele apressou-se em dizer que não vai agir como o temido Robert Moses, que nos anos 60 queria destruir o SoHo e o Greenwich Village para construir um complexo de rodovias. Gavin prometeu que vai "ouvir todas as vozes" e disse que o projeto vai ser "de primeira classe". "Mas precisamos de tempo para fazer isso", disse ele.
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