Então no cargo, o presidente de Honduras, Manuel Zelaya, decretou a realização de uma consulta popular sobre a possibilidade de se convocar um referendo para decidir sobre uma possível Assembleia Constituinte. Ou seja, primeiro o líder hondurenho queria que a população decidisse se um referendo seria convocado ou não. Se aprovado, esse referendo - no qual a população seria chamada a opinar novamente - decidiria sobre a possibilidade de se modificar a Constituição. Caso a população concordasse com a ideia, só aí o Executivo apresentaria suas propostas, entre as quais estaria a possibilidade de reeleição. A decisão final estaria nas mãos dos poderes Legislativo e Judiciário. É deles a responsabilidade de bater o martelo.
Caso todas essas etapas fossem cumpridas, Manuel Zelaya, deposto por um golpe de Estado no dia 28 de junho de 2009, poderia se candidatar novamente. Hoje, a Constituição de Honduras não permite a reeleição e nem a candidatura de um ex-presidente. A partir dessa cláusula, foi amplamente divulgado que a justificativa para a deposição imediata de Zelaya teria sido a violação do artigo 239 da Constituição. De forma resumida, o texto diz que qualquer pessoa que tenha exercido a titularidade do poder Executivo não poderá ser presidente ou vice-presidente da República. Quem propor a reforma deste item, ou quem apoiar direta ou indiretamente, será retirado do seu respectivo cargo e ficará inabilitado de exercer funções públicas por 10 anos.
No entanto, há posições jurídicas que questionam esse argumento. Apesar de estar no meio da discussão, o artigo 239 pouco teria a ver com a polêmica. Já que o objetivo de Zelaya era consultar sobre a convocação ou não de uma Assembleia Constituinte, e não diretamente de uma reforma constitucional, particularmente do artigo em questão. Tanto é que o Congresso teria alegado a violação de outros artigos para pedir a deposição do presidente. O problema é que a Carta hondurenha não prevê um processo de impeachment, como acontece no Brasil. A responsabilidade de julgar um presidente da República cabe ao Judiciário. Só que esse julgamento teria sido feito em cerca de 24h, impedindo que Zelaya apresentasse uma defesa.
O impasse durou longos meses. Zelaya, com o apoio de parcela da população e de alguns líderes, como o venezuelano Hugo Chávez, voltou ao país e se alojou na embaixada brasileira em Tegucigalpa. Várias foram as tratativas entre o líder deposto e o líder de facto, Roberto Micheletti, para que a situação se normalizasse. Nenhuma teve sucesso. O tempo passou e as eleições presidenciais de novembro chegaram. Em meio a um impasse que não parecia ter fim, o povo foi às urnas. Porfírio Lobo venceu o pleito, mas diversos países, inclusive o Brasil, não o reconheceram como novo presidente de Honduras. Em janeiro de 2010, após 128 dias na embaixada, Zelaya deixou pediu asilo político na República Dominicana. Seis meses após o golpe a situação em Honduras voltou ao normal, mesmo sem uma solulção para o impasse.