Biotecnologia e transgênicos são fundamentais para o País
Vagner Magalhães
José Maria Silveira é professor do Núcleo de Estudos Agrícolas do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Doutor em economia, trabalha com economia agrária, economia dos recursos naturais, mudança tecnológica e economia do bem-estar social. Entre suas linhas de pesquisa estão avaliação de políticas públicas, biotecnologia e mercado de insumos para agricultura, inovação tecnológica na agricultura, reforma agrária e economia industrial. Nesta entrevista, ele diz que o cultivo de transgênicos é irreversível. "Num futuro próximo, todas as culturas serão, de alguma forma, transgênicas."
Terra - Com o atual cenário mundial, o Brasil tem mais a ganhar ou a perder plantando transgênicos?
Silveira - Pode-se dizer que hoje o Brasil é um país especializado em biotecnologia agrícola e tem um interesse muito grande em competir mundialmente no comércio de alimentos. Do outro lado, na Europa, por exemplo, temos a União Européia, bastante forte no processamento de alimentos, mas que usa a sua agricultura basicamente para conservar território, com baixa competitividade. Temos no Brasil uma equipe de pesquisadores bastante competente e podemos conquistar mercados. É indiscutível que tanto a biotecnologia quanto os transgênicos são fundamentais para a economia brasileira.
Terra - Pode-se afirmar hoje que a produção de alimentos transgênicos é segura?
Silveira - Eu diria que é totalmente segura. O que há é muita polêmica, exatamente por vir de uma grande descoberta científica. A descoberta da soja transgênica foi um grande salto tecnológico. E isso sempre acaba gerando um pouco de desconfiança. Mas o sucesso está aí, para quem quiser ver.
Terra - Com o plantio de áreas cada vez maiores, de monocultura, como fica o pequeno produtor nessa história?
Silveira - O Brasil é hoje um país agrícola, e não se sobrevive mais em pequenas áreas, a não ser com produtos de valor agregado, como flores, frutas. Essa é uma saída para o pequeno produtor, a especialização. É descobrir um nicho e trabalhar nele adequadamente.
Terra - O senhor acredita que o brasileiro médio, que acompanha o noticiário pelos jornais, está bem informado sobre o que se discute no projeto de Lei de Biossegurança, que está no Senado?
Silveira - Eu diria que de 2002 para cá, o debate tem sido intenso e quem se interessa pelo assunto tem à mão uma boa possibilidade de informação. Esse é um grande mérito do governo Lula. No governo anterior, não houve uma discussão aberta e a informação, para quem não era da área, praticamente inexistia.
Terra - Na opinião do senhor, as discussões do Projeto da Lei de Biossegurança vão por "um bom caminho"?
Silveira - A biossegurança, ao meu ver, deve tratar de organismos geneticamente modificados, ou seja, que recebem um gene de um organismo de outra espécie. Não é o caso das células-tronco. Misturar as duas coisas é um erro. Mas desde que passou pela Câmara, até voltar para o Senado, o texto tem avançado. Ainda não é o ideal, mas está melhor do que era.
Terra - O Brasil investe hoje o suficiente em estudos sobre a transgenia?
Silveira - O nosso País tem hoje uma das melhores pesquisas agrícolas do mundo. Há gente gabaritada fazendo esse trabalho, mas o País ainda tem muito a evoluir, principalmente no que diz respeito a uma legislação clara.
Redação Terra |