Historiador vê duelo entre funk e os setores conservadores da sociedade
Terça, 27 de março de 2001
"O funk vira inimigo número um da sociedade quando se torna moda". É o que acredita o pesquisador Micael Herschmann, autor do livro O funk e o Hip-Hop Invadem a Cena. "Existem ciclos do mundo funk e, de tempos em tempos, a mídia e as gravadoras dão atenção ao funk", diz o pesquisador, professor da Escola de Comunicação da UFRJ. Ao se transformar em modismo, os setores conservadores da sociedade se apavoram e reagem, acredita Mikael. "No momento em que o funk ganha a cena e é demonizado pela mídia, os jovens aparecem como os grandes inimigos da sociedade", diz.
Herschmann não acredita que as letras de música que citam a violência possam influenciar nas atitudes dos jovens que as escutam. "As músicas espelham uma realidade muito dura - deve-se ver não como apologia ao crime, mas como uma crítica social que mostra o quanto é dificil para estas pessoas aderirem ao mercado de trabalho", ressalta o historiador. "É um processo de identificacão: não quer dizer que quem canta ou ouve funk é um criminoso ou um assaltante em potencial", completa.
"A classe média tomou o funk como um porta-voz do tráfico, na década de 90, quando deveria usá-lo como um canal para chegar aos segmentos sociais mais pobres e passar uma mensagem pedagógica", alerta. A atenção da classe média ao ritmo, no entanto, é passageira: "Este ciclo do funk vai passar mas vai continuar nas comunidades como expressão cultural - vai ser esquecido pela mídia e depois volta, com outra roupagem".
A erotização do funk também não é novidade ou motivo de alarde, segundo o historiador. De acordo com Herschmann, que pesquisou os bailes funk de 1992 a 98, as músicas eróticas já existiam naquela época e eram uma das vertentes do funk, ao lado da música que mostrava a realidade das favelas, do funk mellody (que fala de amor) e das músicas de humor. "A mídia escolheu uma das vertentes agora, a de erotização, como escolheu, no passado, o de retrato social para ligar o funk à violência", explica o pesquisador.
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