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A BRUXA DE BLAIR

RAPIDINHO
Já disse meu amigo Giba Assis Brasil: "Primeiro fomos obrigados a ver o Titanic porque era o filme mais caro da história do cinema. E agora somos obrigados a ver a A Bruxa de Blair porque é o mais barato. Esses americanos são f..." E são mesmo. Os motivos para ver A Bruxa de Blair são todos extra-cinematográficos: a maneira como foi escrito, a maneira como foi dirigido, a maneira como - pequeno e independente - chegou ao mercado e a maneira como - alavancado pelas "majors" de sempre - está gerando lucros pelo mundo afora.
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AGORA COM MAIS CALMA

Falando do filme em si, do que está na tela, do que sobra depois de uma hora e meia de projeção, o resultado é muito decepcionante. Sua única qualidade real é o grau de realismo, obtido pelo velho recurso de simular um documentário, levado às últimas conseqüências. Mas mesmo isso tem severas contra-indicações: os depoimentos iniciais parecem ter saído de um programa de propaganda eleitoral (o pessoal fala "espontaneamente" exatamente o que interessa); o filme fica chato, porque falta estrutura dramática; e, à medida que o final se aproxima, cresce a sensação de que os autores nunca tiveram nada a dizer, e é por isso que não dizem.

Os apreciadores de A Bruxa de Blair recomendam que, antes de assistir ao filme, o espectador deve dar uma olhada no farto material disponível na Internet, para entender bem a mitologia e sentir antecipadamente o clima sombrio da história. Já ouvi esse papo. Para gostar de "Arquivo-X, o filme" era preciso ser fã da série de TV. Sinto muito, companheiros, não gosto de venda casada. Mesmo sem ter passeado na rede, já tinha várias informações sobre a bruxa, todas muito mais interessantes do que as mostradas na tela. E daí? Depois dos quinze minutos da longuíssima introdução, fiquei na mesma. Só estava esperando o momento em que o filme iria finalmente me deixar com medo. Esperei, esperei, o filme terminou e... nada.

E, se A Bruxa de Blair não provoca temor, não consegue mexer com nossos intestinos, com nosso coração, com nossos nervos, então sobra o quê? Meu cérebro ficou anestesiado por hora e meia, sem qualquer raciocínio, esperando, quietinho, que essas outras partes do corpo fossem estimuladas, e a bruxa não dá o ar da sua graça. Meu cérebro só pode protestar e sentir saudades de Pânico 2, O Troco e outras obras mais honestas. Eu diria que A Bruxa de Blair é tão assustador e estimulante quanto Da magia à sedução. Para quem acha que essa história de "os garotos filmaram, morreram e agora recuperamos o material" é uma brilhante idéia da dupla de roteiristas-diretores, sinto muito informar que esse negócio é muito velho e já foi usado em vários outros filmes.

O mais famoso deles é Canibal holocausto, prato cheio para quem gosta de sangue, vísceras e falso sofrimento. E tão chato quanto A Bruxa de Blair. Querem sentir medo de verdade e depois não conseguir dormir? Vão na locadora e peguem o primeiro Hellraiser- Renascido do Inferno. Querem sentir medo de mentira e depois rir bastante? Vão na locadora e peguem qualquer coisa do Zé do Caixão, que ainda tem a grande vantagem de ser brasileiro. Querem ver hora e meia de câmara tremendo, imagens escuras e fora de foco? Ressuscitem aquele velho projetor super-8 e assistam outra vez às férias da mamãe e do papai em Bariloche. Querem um bom programa para o fim de semana? Fujam de A Bruxa de Blair e encontrem um filme de verdade, corajosamente escrito e dirigido por alguém que tenha algo a dizer.

A Bruxa de Blair (The Blair Witch Project, EUA, 1999). De Eduardo Sanchez e Daniel Myrick

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Carlos Gerbase é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para o ZAZ (A gente ainda nem começou e "Fausto"). Atualmente finaliza seu terceiro longa-metragem, Tolerância, com Maitê Proença e Roberto Bomtempo.

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