Rio - Nas brincadeiras nos campinhos da Vila Nova, em Porto Alegre, com seus amigos de bairro, Ronaldinho Gaúcho assumia sempre a identidade de um ídolo de infância. Ele, e ninguém mais, era Romário.
Mais de 10 anos depois daqueles tempos e seis depois de vibrar e torcer por seu ídolo na Copa do Mundo de 1994, a do tetra, Ronaldinho é companheiro de quarto de Romário na concentração da Granja Comary, em Teresópolis. Para alguém que, pouco a pouco, assume um generoso espaço no futebol brasileiro, a convivência com Romário é mais uma razão para um largo sorriso.
“Ele tem me tratado da melhor maneira possível”, disse Ronaldinho.
Os dois não chegaram a conversar muito ainda. Cumprimentaram-se na chegada à Granja, assistiram a parte do amistoso entre veteranos do Brasil e da Argentina, no Maracanã, trocaram algumas idéias sobre o filme O Santo, e trataram de dormir. Estavam cansados pelo primeiro dia de treino. Mas, ontem, não esconderam a admiração mútua.
“Sempre o admirei por tudo o que ele fez e sei que vou aprender muito nestes dias”, falou Ronaldinho, 20 anos, um pouco surpreso pela facilidade com que se entendeu com o jogador do Vasco, 15 anos mais velho que ele.
“O Ronaldinho é inteligente, é um garoto que tem tudo para ser um dos grandes do futebol brasileiro”, derreteu-se Romário, durante a entrevista. “Se ele continuar assim, brevemente será considerado um dos melhores do mundo.”
Nada mal para Ronaldinho. O elogio parte de um dos atacantes mais competentes do futebol mundial, autor de 49 gols em 45 jogos pelo Vasco, apesar dos curtos períodos sem lesão e da marcação dos adversários.
“Sei que vamos nos entender muito bem no jogo de domingo“, disse Romário, na esperança de que Wanderley Luxemburgo confirme aquilo que todos esperam, um ataque com os dois companheiros de quarto no domingo.
Para Ronaldinho, será o máximo. Quando Romário fez os gols pelo Brasil nos Estados Unidos, ele estava com a equipe juvenil do Grêmio disputando uma competição em São Paulo. Viu os jogos e torceu pela televisão. Ao surgir no time profissional, recebeu justamente de Romário um dos elogios mais entusiasmados por seu futebol técnico (“Nós dois somos os últimos românticos do futebol”, disse Romário). Agora, deve integrar, finalmente, um ataque com o jogador do Vasco – algo esperado pelo torcedor brasileiro desde que Ronaldo, o da Internazionale, virou uma dúvida para o futuro.
“Eu e ele temos o mesmo objetivo, que é fazer a seleção ganhar. O Romário sabe tudo e espero que faça muitos gols”, falou Ronaldinho. Ronaldinho só não poderá ser Romário. Desta vez, o personagem de suas fantasias de criança estará a seu lado.