Rio - De volta à seleção brasileira em grande estilo, o atacante Romário marcou sua posição também em relação ao desafeto Roberto Carlos. Não quer nem imaginá-lo na seleção brasileira.
"Os dois melhores laterais-esquerdos estão aqui", disse. "O Júnior e o Athirson. A seleção não precisa de outro não."
Romário não perdoa Roberto Carlos porque ele disse, após o corte do jogador da Copa de 1998, que o atacante não faria falta.
A equação da volta de Romário à seleção é simples: um técnico cercado por escândalos sexuais e financeiros. Um grupo de jogadores sem carisma e desmoralizado pela péssima campanha nas Eliminatórias. Pressão quase insuportável da imprensa e da torcida.
Pronto, o caminho estava aberto para um craque carismático e oportunista (em todos os sentidos) como Romário.
Depois do coletivo de quarta-feira não havia dúvida sobre quem manda na seleção brasileira. "Se faltava alguém com carisma, agora não falta mais", disse Romário gargalhando. "Eu falo fora e decido dentro do campo. O Wanderley é inteligente e me colocou para jogar onde gosto e o resultado não demorou. De mim, podem cobrar. Eu tenho futebol para responder a qualquer cobrança. O Brasil está precisando de gols contra a Bolívia para se tranqüilizar nas Eliminatórias? Eu faço. Ou há quem duvide de mim?"
Até o ego de Wanderley Luxemburgo, que está longe de ser pequeno, se dobrou ao atacante de 34 anos. "Ele é uma estrela e tem de ser tratado de maneira diferenciada. Não foi por acaso que o Romário foi escolhido o melhor do mundo depois da Copa dos Estados Unidos. É especial, mesmo", dizia, sério. Em nome da seleção, se esquecia que falava do mesmo jogador que o derrubou de seu clube do coração, o Flamengo, em 1995, e a quem havia prometido ódio eterno.
Romário teve uma participação especial no coletivo vencido pelos titulares por 4 a 0. Deu dribles desconcertantes, fez tabelas de primeira, chutou bola no travessão, deu um chapéu em Velloso, deu passe para Ronaldinho marcar e ainda fez seu gol. Foi aplaudido por torcedores e pelos próprios companheiros de time, que não escondiam estar felizes por jogar ao lado de um ídolo.
"Fiz o que estou acostumado há anos", disse. "Não sei por que tantas críticas ao ataque brasileiro. É muito fácil jogar ao lado desses garotos, o Ronaldinho Gaúcho e o Alex. Ah, tem também o número um do mundo, que é o Rivaldo. Ele é muito bom também."
Depois do coletivo, Romário ainda deu alguns chutes a gol. Bateu pênaltis em Rogério. Apostou que converteria cinco cobranças seguidas. Como o goleiro defendeu logo a segunda, parou a brincadeira. Resolveu se deitar ao lado de Ronaldinho Gaúcho. Foi a senha para o massagista Jorginho levar isotônico aos dois. O de Romário fez questão de abrir a tampa e teve de se controlar para não dar na boca do atacante.
Fazendo o que quer, chegou a vez de Romário falar da dupla que forma com Ronaldinho Gaúcho. "Se Deus quiser, nós formaremos a dupla ideal de atacantes que o Wanderley estava precisando", disse. "O menino está bem. Está tranqüilo, com dinheiro, tá prontinho para jogar comigo. A minha experiência com a juventude dele vai levar o Brasil a grandes conquistas. Ele vai ser meu peixe."
Romário confessou que até ficou sem jeito no coletivo. "Teve uma hora, depois que fiz meu gol, que o Ronaldinho Gaúcho ficou olhando para mim. Olhava, olhava. Acho que ele estava pensando se eu era de verdade ou não. Mas eu falei para ele ficar tranqüilo, que era o Romário mesmo quem estava pertinho dele", disse