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Guerra dos tênis movimenta US$ 600 mi por ano
Quinta-Feira, 07 Setembro de 2000, 09h43

Porto Alegre - Por trás da controvérsia sobre a participação de Gustavo Kuerten na Olimpíada de Sydney está uma disputa comercial pesada.

As vendas mundiais apenas de tênis esportivos movimentam US$ 600 milhões por ano, um mercado que é atualmente dominado pelas gigantes norte-americanas Nike (24%) e Reebok (22%), seguidas de perto pela alemã Adidas (14%).

É nesse filé que a gaúcha Olympikus está de olho ao patrocinar a delegação brasileira nos Jogos de Sydney. Dona de 10,5% do mercado brasileiro de tênis –mais do que Nike, Reebok e Adidas juntas–, a Olympikus sonha também com o mundo. A empresa de Parobé pretende aproveitar a audiência planetária do Jogos, estimada em 22,6 bilhões de pessoas, para começar a incomodar os grandes do setor lá fora.

A estratégia é transformar a Olimpíada na porta de entrada para o mercado global. Além de colocar sua marca no uniforme da maioria dos atletas brasileiros, a Olympikus espera obter o aval técnico para o material que fabrica. Em 1999, investiu R$ 76 milhões (15% do faturamento) em pesquisa e desenvolvimento de produtos, incluindo uma sapatilha especialmente projetada para o velocista Claudinei Quirino.

A repercussão negativa da saída de Guga da Olimpíada é que pode atrapalhar os planos. O diretor da Marpa, Marcas e Patentes, Valdomiro Gomes Soares, não chega a apostar num desgaste público expressivo para a Olympikus ou a Diadora. Mesmo assim, ele acha que as duas saíram perdendo com o episódio.

"No mínimo, elas vão deixar de exibir seu logotipo num atleta com potencial para ganhar medalha. Mas quem teve sua imagem mais arranhada foi o Comitê Olímpico Brasileiro", disse Soares, para quem seria possível chegar a um acordo que permitisse ao tenista usar as duas logomarcas.

Para a Diadora, não colocar sua marca no uniforme de Guga será um golpe duro. Com o brasileiro fora da Olimpíada, a empresa italiana praticamente fica alijada do maior evento esportivo do planeta, que será dominado pela Nike e pela Adidas, suas concorrentes diretas. Entre os 60 atletas da Diadora nos Jogos, Guga era de longe o de mais expressão. Os outros dificilmente ganharão medalhas. Enquanto isso, a rival Nike terá mais de mil atletas jogando com sua marca em todas as 28 modalidades –centenas deles de fama internacional.

Quarta-feira, em Porto Alegre, o gerente comercial da Diadora, Luís Alfredo Maia, procurou desvincular a decisão do jogador à disputa das marcas. "Abrimos mão da logomarca da Diadora no uniforme do Guga, mas também não queríamos que ele usasse outra marca. O COB foi intransigente e não permitiu", disse Maia.

A Olympikus se limitou a distribuir uma nota reiterando que a empresa pretende dar a todos os atletas presentes em Sydney o mesmo tratamento e a mesma atenção. "A Olympikus corrobora a decisão do Comitê Olímpico Brasileiro de que todos os atletas da delegação nacional usem os uniformes de nossa marca", diz a nota.

Com tanto interesse e dinheiro em jogo, seria difícil imaginar algo diferente num ramo no qual parece prevalecer a máxima do criador da Nike, Phil Knight: "Odeio meus concorrentes."

Zero Hora


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