Monza - Mika Hakkinen ou Michael Schumacher: um dos dois, salvo surpresas, será campeão mundial de pilotos de fórmula 1 do ano 2000. Nesta quinta-feira, ambos sentaram-se quase lado a lado na sala de imprensa do autódromo de Monza, onde nesta sexta-feira começam os treinos livres para o GP da Itália, 14ª etapa do campeonato. "Não acho que esta corrida seja crucial para a minha pretensão de ser campeão", disse Schumacher, que está seis pontos atrás de Hakkinen na classificação (74 a 68). "A prova apenas tornará a vida mais ou menos difícil para nós”.
Enquanto para o finlandês da McLaren a vitória em Monza, domingo, significará quase que a definição do Mundial, para Schumacher o GP da Itália não tem esse caráter decisivo. Hakkinen esfregou as mãos quando lhe perguntaram se ele achava que a conquista estava garantida em caso de novo sucesso em Monza. Ele vem de duas vitórias, Hungria e Bélgica. Restarão, então, três etapas para o encerramento do campeonato, Estados Unidos, Japão e Malásia.
A determinação de Schumacher em reverter a vantagem de Hakkinen é tal que nesta quinta-feira pela manhã ele aproveitou os 12 quilômetros de testes que a Ferrari ainda tinha para simular largadas. Cada equipe pode percorrer 50 quilômetros em treinos na semana da prova.
Para que se tenha uma idéia do planejamento do trabalho do alemão, ele praticou largadas na pista de Fiorano e em seguida nem mesmo completava a volta. Parava o carro e retornava para a posição no grid do circuito, a fim de não gastar quilômetros em vão. Tão logo acabou o ensaio, voou de helicóptero para Monza a fim de participar da entrevista coletiva programada pelos organizadores. "Esses testes são sempre úteis", afirmou.
A disposição dos assentos para essa entrevista acabou por colocar Ricardo Zonta entre Hakkinen e Schumacher, reproduzindo o que ocorreu na corrida de Spa, em que os três envolveram-se na histórica ultrapassagem do finlandês sobre ambos. Hakkinen ouviu com atenção Zonta dizer que pensou em deslocar sua BAR para a direita, para facilitar Schumacher, mas como havia sujeira no asfalto, permaneceu na mesma trajetória. "De repente vi um carro passar por alí, ele teve muita sorte de tudo dar certo, o risco de um acidente grave era enorme”. Hakkinen comentou que assistiu a cena pela TV, em casa. "Adorei", falou rindo.
Ano passado, em Monza, o finlandês foi a figura central de um episódio pouco comum na F-1: manifestações de sentimento profundo. Depois de errar e abandonar a prova, por ter cometido um erro infantil quando liderava com folga, se escondeu atrás de uns arbustos e, abaixado, chorou minutos seguidos. Uma câmera de TV registrou sua reação. O erro quase lhe custou o título. "Não gosto sequer de pensar em ter de passar de novo por aquilo", comentou. Na etapa anterior do campeonato, na Bélgica, dia 27, Hakkinen também rodou, no momento em que estava em primeiro, mas conseguiu retornar à competição e vencê-la.
Hakkinen quase não tirou proveito dos treinos da semana passada em Monza. "Estava escalado para um único dia e choveu muito; terei de trabalhar mais aqui para acertar o carro ao circuito”.
Ele sabe que Schumacher e Rubens Barrichello testaram nos três melhores dias da pista. "Experimentamos desde 57 até 20 graus no asfalto, bem como treinamos sob chuva", lembrou Rubinho. "Não sei o que poderemos fazer em comparação com a McLaren, mas descobrimos como a Ferrari se comporta em todas essas situações”.
No final do encontro com a imprensa, o jornalista inglês Mike Doodson, um dos mais antigos da Fórmula 1, perguntou a Schumacher até quando ele teria de vê-lo no paddock. O alemão perguntou o que ele desejava dizer com aquilo. Doodson respondeu que era por causa do seu espírito pouco esportivo, lembrando a fechada em Hakkinen na Bélgica, quando estava prestes a perder a liderança. O caráter de piloto do alemão é posto em questão a cada etapa do Mundial. "O delegado da Federação Internacional de Automobilismo (FIA) analisou o que se passou em Spa e anunciou não existir nada de errado no que fiz, ponto final", afirmou Schumacher.