Canberra - Os treinos diminuem de intensidade cada vez mais. O trabalho forte e até o de "polimento", como os nadadores chamam as últimas semanas de preparação, está quase concluído. Muitos nem caíram na piscina do Instituto Australiano de Esporte (IAE), nesta sexta-feira à tarde, e outros nadaram bem leve. O momento é de descanso e ansiedade, até mesmo para os mais experientes, como Gustavo Borges, de 27 anos, três medalhas olímpicas (foi prata nos 100 m, em Barcelona/1992, e em Atlanta/96, ficou com a prata nos 200 m e bronze nos 100 m, todas no estilo livre) e disputando a sua terceira Olimpíada.
Gustavo pode ser o recordista brasileiro de pódios olímpicos - está empatado com o iatista Torben Grael. "Estou na ponta dos cascos, pronto para ir para Sydney, enjoado de Camberra", revelou o nadador, após passar as duas últimas semanas, para treino e aclimatação ao fuso horário, no Instituto Australiano de Esporte (IAE), na capital australiana.
Gustavo, que foi direto de Michigan, nos Estados Unidos, onde morava, para Barcelona, nos Jogos de 92, e fez um período de aclimatação em Memphis com o time brasileiro de natação, em 96, antes da Olimpíada de Atlanta, confessa que toda a véspera de competição é igual, com muita ansiedade.
O frio, o vento e a garoa dos últimos dois dias - o sol não apareceu - também são motivos para reforçar a idéia de ir embora de Camberra. "Alguns estão meio resfriados", observa Gustavo - a piscina é quente e a maioria dos nadadores sai de cabeça molhada para o frio, a caminho do hotel.
Mas, apesar do desejo de Gustavo, a natação tem data marcada para deixar a capital australiana, em um vôo de 50 minutos até Sydney, na terça-feira. Seguirá com os atletas da ginástica artística, as meninas do handebol e basquete e o vôlei masculino. Os atletas do triatlo, que chegaram à Camberra no dia 27, seguiram nesta sexta-feira para Sydney (competem nos dias 16, o feminino, e 17, o masculino).
Como tem data certa para partir, Gustavo planeja "ocupar a cabeça" com alguma atividade dentre as disponíveis no hotel City Gateway - jogos, videokê e, principalmente, internet. Formam-se filas, diariamente, nos computadores instalados no hotel por um patrocinador do COB. Enquanto fala com a família por telefone e e-mail - os pais e a mulher chegam a Austrália dia 14 - o principal nadador brasileiro trata de vencer a ansiedade e a pressão que é maior ainda para ele.
"Não tem desculpas, estou pronto para nadar", repete, sempre, sem esconder que gostaria de ganhar a primeira medalha de ouro para a natação do Brasil. O esporte tem três medalhas de prata (duas são dele) e cinco de bronze, desde a primeira participação nos Jogos. Tetsuo Okamoto foi o primeiro a subir no pódio, com o terceiro lugar nos 1500 m, livre, na Olimpíada de Helsinque, em 1952.
Nesta sexta-feira, os nadadores da equipe brasileira, que tem suas competições programadas para a primeira semana do programa olímpico, tiveram uma sessão com o "preparador mental" que acompanha a delegação em Camberra, Roberto Shinyashiki. "Este foi o período de adaptação mais longo que tivemos, chega, estou pronto para ir embora, quero competir", reclama Gustavo, que ainda está de cavanhaque, cabelo comprido e pelo no corpo. O cabelo vai ser cortado com máquina dois e a raspagem dos pelos será feita na véspera da competição, para tornar menor o atrito com a água.
A equipe de natação experimenta a piscina do Centro Aquático de Sydney nos dias 13, 14 e 15. As competições começam dia 16 e a primeira prova importante para o Brasil, com eliminatória e final no mesmo dia, será o revezamento 4x100 m, livre, com Gustavo Borges, Fernando Scherer, Carlos Jayme e Edvaldo Valério. "O revezamento melhorou em três segundos de Winnipeg para cá e se conseguirmos uma medalha nos 4x100 m teremos moral para arrebentar", torce Coaracy Nunes, presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos.
Agência Estado