Sydney – Larri Passos, técnico do tenista brasileiro Gustavo Kuerten não tem dúvidas em dizer que Guga tem um longo caminho de sucesso a trilhar no tênis. Diz que ele e o russo Marat Safin são os melhores e mais completos tenistas da atualidade e descarta qualquer possibilidade de doping no tênis. Com a palavra, Larri Passos:
O Brasil trouxe 204 esportistas para Sydney e é um prazer estar aqui porque, no circuito, convivemos o tempo todo só com jogadores de tênis e a pressão é muito maior. Aqui é muito mais tranqüilo, relaxado. A convivência com outros jogadores melhora meu trabalho porque Guga desfruta muito. Na ATP é completamente distinto, é outro ambiente.
O ano de Guga
Agora teremos os Torneios de Hong Kong e Tóquio, em quadras duras. Guga vem jogando cada vez melhor nesses pisos, estou feliz. Em Indianápolis, venceu.
Também chegou à final de Miami. O que espero é que, daqui em diante, consiga bons resultados e permaneça entre os primeiros. Quem sabe termine o ano bem para fazer um bom Masters. Teremos Paris e Stuttgart para treinar indoors para chegar aos Masters. Há uma coisa que a imprensa não fala: este é o segundo ano de Guga nos Masters. É uma conquista muito grande para a América do Sul, para o Brasil e pouca gente fala disso. Definitivamente, para mim é um grande feito estar de novo entre os Masters, porque manter-se entre os primeiros é muito duro.
Aonde pode chegar?
Guga adquiriu muita confiança nos torneios de terra batida de Roma, Hamburgo e Roland Garros. Quando o jogador adquire essa confiança, fica muito mais fácil para o treinador trabalhar com o atleta em outros tipos de piso. Vai falando com ele, vai moldando o jogador, é mais tranqüilo. Guga e Safin são hoje os jogadores mais completos do circuito. Repare que Safin saca bem, tem um bom revés, uma boa direita.
Os dois vão dominar os tênis nos próximos dois ou três, anos, que é o tempo que Sampras vai jogar também. Guga está jogando tênis feliz. É assim que tem de ser. Tem de treinar duro, mas tem de ser feliz.
Doping
No tênis é impossível haver doping. Posso dizer isso tranqüilamente, porque convivo com esses jogadores todos os dias. Não há doping no tênis. Só este ano, Guga fez oito exames antidoping porque está em quase todas as finais e semifinais. Posso dizer que, seguramente, é um grupo muito sadio, muito tranqüilo. Do passado não posso falar. Posso falar que nos últimos três anos estou com Gustavo entre os top ten e estou seguro de que não há nenhum problema com ele.
A expectativa
Espero que Guga continue jogando o que vem jogando depois de Indianápolis.
Ele vem jogando muito bem, relaxado, controlando a tensão, controlando bem momentos importantes na quadra. Numa devolução de saque 30/40, aí é hora de pôr o foco, controlar essa parte mental dentro da quadra. Aí se gastará menos energia.
Ele está conseguindo jogar bem mais relaxado, variar mais. Variação de jogadas, subidas à rede, slices, tudo é treinado diariamente. Só que na hora do jogo, às vezes ele fica um pouquinho excitado e dá aquela pancada, que não é necessária. Guga chegou a um nível em que pode controlar essa excitação e jogar relaxado.
Nós vamos a Hong Kong, são dois torneios championships series, de US$ 800 mil, logo abaixo do Master Series. Aqui ele tem grandes possibilidades, está muito motivado. Isso é muito importante, conseguir manter-se feliz e motivado.
Até onde vai chegar?
Guga chegou a número 1 da corrida que inventaram este ano, chegou a número 2 do ranking mundial, o de entradas, poderia ter chegado a 1.
O caminho é esse, achar que pode ser o número 1 nos dois rankings. O Guga vai mal porque dizem que ele caiu para número 2. De repente, não posso pensar muito em números porque o pior ranking vai ser publicado.
Eu não estou preocupado com ranking. Só quero ver Guga feliz, relaxado, jogando bem.
O que ele tem de tão especial?
Pouca gente sabe, mas você pega uma criança e a ensina a caminhar, a entender a coisa. Muita gente não olhou para trás e viu que ele tinha 13 anos, era um moleque que sonhava, eu sonhava também. E ele deu um pouquinho de sorte ao encontrar um cara que sonhava em projetar um jogador a ser um top 10. Esse trabalho todo é o Guga que está aí. Era um cara que conseguiu ensinar a ele responsabilidade, a dar 100% na quadra o tempo todo. Hoje, se ele não treinar 100% o tempo todo, ele reclama. Esse é o Guga.
O episódio Olympikus
No fim, aconteceu uma coisa muito interessante. A partir desse caso, o comitê olímpico e os patrocinadores, vão pensar em fazer alguma coisa diferente. O pessoal da Itália me contou que, durante os Jogos, usa material dos patrocinadores deles e na Vila, para passear, roupas da Benetton. São opções. Entraram em discussão coisas interessantes. Eu tenho contrato com a Diadora e ninguém se preocupou com a minha imagem. O que aconteceu com Guga foi uma coisa que vai somar para o esporte brasileiro, as confederações, os patrocinadores. O que ficou bem claro desde o começo era a vontade de Guga vir. O Brasil inteiro sabia que Guga queria vir, pela Olimpíada, pelo amor ao Brasil. Todo mundo sabe disso agora. O importante é ter diálogo.
Nuzman
Carlos Nuzman tentou conversar mais, dialogar mais, funcionou. Ele coordena um comitê olímpico de 204 atletas. Trabalha com as confederações. Faltou diálogo meses antes, talvez. No fim, deu tudo certo e o bom senso prevaleceu. Minha preocupação maior era com a Olympikus, marca brasileira que tem tudo para dar certo. O esporte brasileiro precisa de mais patrocinadores e a Olympikus tem papel importante nisso.
Olimpída
Poderiam ser 16 países jogando duas partidas simples e uma dupla. Essa posição vou tentar defender diante dos dirigentes. Imagina o cara jogando a simples de manhã e podendo dedcidir a dupla à tarde. Seria fantástico.