Sydney - Um mês de férias "para botar a cabeça no lugar" e só então decidir o que vai fazer quanto à natação. Em princípio, Gustavo Borges pretende continuar nadando, embora saiba que esta é certamente a sua última Olimpíada. Em Atenas terá 31 anos. O brasileiro, de 27 anos, deixou a piscina do Centro Aquático de Sydney abatido com o 16º e último tempo (49s93) das semifinais dos 100 metros nado livre, no quarto dia do programa da natação nos Jogos Olímpicos. Ficou fora da prova mais importante da natação, em uma semifinal fortíssima com um incrível recorde mundial do holandês Pieter van den Hoogenban e o tempo de 47s84.
Mesmo abatido, Gustavo foi preciso ao definir o que vem ocorrendo com a natação brasileira em uma Olimpíada que tem um festival de recordes. "O Brasil está muito, mas muito distante do resto do mundo”. Ele preferiu enfrentar a derrota e não passou correndo pela zona mista, onde estavam os jornalistas brasileiros. É um nadador que tem lastro para isso.
Nesses Jogos de Sydney, estabeleceu um recorde. É agora o brasileiro que mais medalhas ganhou na história da participação olímpica do País. Gustavo é dono de quatro medalhas olímpicas, duas nos 100 metros (prata, em Barcelona/1992 e bronze, em Atlanta/1996), Olimpíada em que também ganhou a prata nos 200 metros nado livre. Deixa Sydney com a sua quarta medalha, mais uma de bronze, obtida pela equipe do revezamento 4x100 metros nado livre.
Gustavo não sabia ao certo o que havia ocorrido. Observou que tinha feito boas marcas na temporada. Em dezembro do ano passado nadou 49s01, em março fez 49s03. "Não foi o meu dia, não estava me sentindo bem desde o aquecimento, larguei mal, nadei mal", foi comentando Gustavo. "Não tem desculpa, não dá para explicar”. O atraso da natação brasileira fica evidente também porque houve uma evolução crescente da modalidade nos demais países nos últimos quatro anos, desde a Olimpíada de Atlanta.
"Comparada com Atlanta, a equipe brasileira selecionada para esses Jogos é superior", ressaltou. Gustavo observou que para classificar-se às finais dos 100 metros, em 1996, bastou o tempo de 49s69, feito pelo brasileiro Fernando Scherer, o Xuxa. Desta vez, o tempo de corte foi de 49s55. "Um tempo que, na verdade, nem foi tão bom se comparado com o do recorde mundial”.
Gustavo tem a sua própria explicação para o show de recordes que está ocorrendo em Sydney. E ela é financeira. Na sua análise, desde que a natação tornou-se "lucrativa", os nadadores passaram a treinar mais e mais, a ciência entrou em campo e os tempos estão caindo. "Um cara como o Ian Thorpe pode ganhar algo entre 5 e 6 milhões de dólares."