Porto Alegre - Fábio Rochemback até se assustou com a grandiosidade do Morumbi na quarta-feira. Entrou no gramado e levou um baque quando olhou para as arquibancadas do estádio, o maior particular do Brasil.
O espanto foi breve. Em seguida, Fábio tratou de jogar e teve uma atuação proporcional às dimensões do Morumbi. Foi o melhor do Inter, de novo, desta vez junto com outro novato, o zagueiro Ronaldo. Os dois são uma espécie de ídolos de última geração.
Ontem, na chegada a Porto Alegre, o volante parecia surpreso com o assédio dos jornalistas. Tinha consciência de que tivera uma boa atuação, mas não imaginava que havia sido tão boa assim. Até porque depois do jogo ouvira algumas restrições do pai, Juarez, por telefone. O zelozo Juarez, um ex-goleiro que rodou por clubes do Interior nas décadas de 70 e 80, repreendeu Fábio pelos erros nas conclusões. O volante concordou. "Fiz boas jogadas, mas errei mesmo os chutes. Tenho que melhorar isso", disse.
A vida de Fábio deu uma guinada nestes últimos 45 dias. Era reserva dos reservas. Então, Enciso estava na seleção paraguaia e Marcelo se machucou contra o Vitória-BA. Fábio foi chamado às pressas para completar a delegação em Brasília. Começou a partida contra o Gama e ganhou uma vaga no meio-campo do Inter. Nem a expulsão no Gre-Nal abalou sua estabilidade. Cumpriu suspensão e voltou respaldado por Zé Mário.
Nesta fase árida do Inter, o surgimento de um jogador de qualidade é exaltado – mas visto com cautela. A comissão técnica se esmera para preservar jovens talentosos. Evita que carreguem responsabilidades. Como Juarez, o pai, Zé Mário exige algumas correções. "É um jogador que está se desenvolvendo, mas tem muitas coisas a corrigir. Corre demais com a bola. Ganharia mais se tocasse e aparecesse para receber, pois tem força e explosão", analisa.
Fábio está atuando fora de posição. Desde que chegou ao Beira-Rio para uma peneira em 1998, joga como segundo volante. Atuando ali chegou à seleção de juniores no ano passado. Foi titular nos três jogos em um torneio em Trinidad Tobago. A viagem ao Caribe, aliás, deixou de ser sua maior experiência no futebol. Viajar de avião e se hospedar em hotéis luxuosos viraram rotina desde que chegou ao profissional.
As boas atuações prometem valorização de contrato. O vínculo de dois anos expira em dezembro. Fábio ainda ganha salário de amador, mora no Beira-Rio e pode passear tranqüilo pelos shoppings, o que não deverá continuar muito.